sexta-feira, janeiro 08, 2010

 

Votos para um Novo Ano

Hoje, no semanário "Grande Porto" vem o meu texto quinzenal:


É dos clássicos a noção de que um bom governo é o que diminui o sofrimento dos que mais sofrem e não o que torna mais felizes os que já vivem na abastança. E se ser cidadão é tomar a palavra para fazer mudar a vida da cidade, seria normal que os governantes estivessem atentos às críticas que lhes são feitas para, pelo menos, evitarem consequências que, supostamente, não desejariam.


Mas haverá consequências das críticas?!... Sempre que começo a elaborar a minha crónica, vem-me à memória a imagem do “speaker”, no Hyde Park, em Londres, empoleirado no seu “corner” a debitar faladura com a indiferença de quem para ele deita uma olhadela.


De facto, o exercício da cidadania perdeu a dimensão que lhe dava sentido: ter sempre presente que só não há alternativa para a morte. Temos de criar alternativas e estas constroem-se com expectativas para melhorar a vida dos que mais precisam. As críticas devem conduzir às boas ideias. Aquelas para nada servem, se as boas ideias deixarem de ter consequências: serem aplicadas. O regionalismo, a ecologia, o desenvolvimento, a criação de emprego, a resolução do deficit, a ética, etc., não podem ser questões de especialistas ou instrumentais, ficando só ao “serviço” dos mesmos, os que têm o poder económico ou político.


Vivemos uma situação terrível: diariamente, os desempregados fazem crescer a cifra dos dois milhões de pobres; pequenas e médias empresas são sufocadas com impostos e lutam com dificuldades de crédito e o sector produtivo, na agricultura e na indústria, vai definhando. No entanto, parece que só há uma fórmula para resolver os nossos problemas. Só há um único pensamento para resolver o problema do deficit: congelar o salário dos que menos ganham, privatizar o pouco que ainda pertence ao Estado e despedir ainda mais. De nada serve questionar os salários milionários dos administradores da banca e das empresas cotadas em bolsa, de nada serve indignarmo-nos com as mordomias dos senhores do dinheiro, de nada serve protestarmos contra os gastos escandalosos com a frota luxuosa de carros para a Assembleia da República; de nada serve insurgirmo-nos contra as fortunas rápidas que se fazem na promiscuidade entre interesses públicos e privados, de nada serve pedirmos uma reforma dos partidos que retire a estes o monopólio das decisões políticas por forma a ser credibilizada a representação política e se acabar com o oligarquismo em que vivemos.


A lógica da indiferença paralisa o cidadão e deixou de entusiasmar o Futuro. O sentido do espírito de cidadania esvaziou-se. Perdemos a esperança.


Os meus votos, os votos que faço para o Novo Ano que agora começa, é de que retomemos o espírito da cidadania para tomar a palavra e criar esperança, promovendo alternativas que contrariem o pensamento único que corta pensões, aumenta a idade de reforma, congela salários e provoca despedimentos para “desenvolver” o País, corrigir o deficit e aumentar o PIB.

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