sexta-feira, outubro 09, 2009

 

Chega de discursos inoperantes.

O Presidente, no Cinco de Outubro, repetiu a retórica habitual das comemorações da República. Apelou ao exercício da cidadania, incitando-nos a “uma atitude cívica mais empenhada e mais activa”.

Não muito distante, Paula Teixeira da Cruz, perto do local onde foi proclamada a República, repetiu o que a História nos tem ensinado: “O declínio das Repúblicas sempre esteve associado à degradação de padrões éticos.”

Esta retórica vai-se tornando música de fundo das efemérides patrióticas, sem consequências práticas. Saturamo-nos de ouvir os mesmos apelos, os mesmos incitamentos pelos mesmos responsáveis.

Governantes, políticos, cidadãos de todas obediências maçónicas (com muita influência junto do Governo) e “cívicos” proeminentes de diferentes quadrantes aproveitam as efemérides patrióticas para impingirem a oratória de circunstância.

Todos eles, nestas alturas, levantam a bandeira dos valores da cidadania, lembram-nos que ser cidadão é ter o dever e o direito de criar expectativas sobre um bom governo, um governo que diminua o sofrimento dos que mais sofrem, e lutar por elas.

Todos eles, nestas ocasiões, nos incitam aos valores que resultam do vínculo que nos liga ao país a que pertencemos e apelam às exigências de justiça, de respeito pelas instituições, de obediência a regras universais e à necessária harmonia entre cidadãos, que gerem o desenvolvimento do bem-estar social e a confiança no Futuro.

São as “boas intenções” nas circunstâncias tradicionais,

E o que falta, entretanto, durante o tempo que medeia as circunstâncias?!... Falta que os factos não contradigam as intenções dos governantes, dos “cívicos” proeminentes e dos obedientes maçónicos. Que eles promovam o que só eles podem promover.

E o que nos dizem os factos?!... Os factos dizem que quem levar a sério os ideais democráticos e republicanos que nos apregoam, quem lutar contra o arbítrio, o nepotismo e a corrupção correrá o risco de ficar sem emprego, ser ostracizado na sua autarquia e, ainda, ter problemas nos tribunais, mesmo que depois se confirme que tinha toda a razão e a sua denúncia era justa.

Assim aconteceu com os que criaram a Associação dos Amigos do Marco e lutaram contra a prepotência e o arbítrio de Avelino Ferreira Torres. De nada lhes serviu serem recebidos pelo Provedor de Justiça, terem o seu apoio e os tribunais acabarem por lhes dar razão.

Assim aconteceu com os que se insurgiram contra os abusos e desmandos do bem-comum de Fátima Felgueiras, Isaltino Morais, Valentim Loureiro e outros.

Por denunciarem o que devia ser denunciado, todos sofreram perseguições, perderam tempo nos tribunais, gastaram dinheiro de que precisavam e só os” media” se interessaram pelas causas que defendiam.

E o que é que aconteceu a todos os que foram objecto de denúncias e que os Tribunais condenaram ou acusaram, aguardando julgamento?!...

Mesmo com várias condenações por peculato, peculato de uso e abuso de poder e, ainda, perda de mandato, Avelino Ferreira Torres (com o “jurisprudente beneplácito” do Tribunal Constitucional) pode voltar a ganhar a Câmara do Marco e tudo indica que Isaltino, Fátima Felgueiras e Valentim receberão o mesmo prémio.

De que vale a oratória dos apelos aos bons costumes, se o sucesso corre atrás de quem não respeita regras e faz do interesse comum o seu próprio interesse?!... São estes que servem de referência aos eleitores numa democracia de zapping, onde tudo é permitido ao chico-esperto que se vai tornando poderoso.

Por que será que isto acontece?!... Esta é a questão que só o Presidente da República e o Governo podem corrigir. Não é com leis complexas, mal feitas e contraditórias, com tribunais sem meios, com professores desautorizados, polícias e funcionários públicos mal tratados que se promove o respeito pela lei, se dignificam as instituições, se credibiliza o Estado e se evitam candidaturas indesejáveis.

Naturalmente, haverá sempre louváveis excepções, mas o clima que está criado é de um vazio de valores democráticos, de uma falta de sentido de Estado e de um imenso sentimento pantanoso, onde todos os bons discursos não passam de retórica vã, inoperante.

Comments: Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?