sexta-feira, agosto 28, 2009

 

Fechar o mercado das “boas ideias”!....

Escrevi, hoje, no Semanário Grande Porto:

Continua a saga em torno do tema: “Presidência da República suspeita estar a ser vigiada pelo Governo.”

Naturalmente, com ministérios tão pobres de boas ideias não seria despiciendo pensar-se numa espionagem do Governo com vista a uma caça de talentos. Mas, lendo melhor, não foi disso que se tratou. A questão foi outra: dois empenhados dirigentes do PS denunciaram uma eventual ajuda dos assessores de Cavaco Silva na produção de ideias para o programa do PSD.
Perplexos, perguntamos: mas que mal haverá nisso?!... As ideias, se são boas, ganham uma dimensão universal e deixam de pertencer a quem as produz; se são medíocres, perdem interesse e, pouco tempo depois, ninguém se lembra delas.

Contudo, mais atentamente depreende-se que o que está implícito é uma insinuação: pretende-se com essa “estratégia” dizer que o Presidente da República perdeu a independência institucional e tornou-se no braço ideológico de Manuela Ferreira Leite.
Essa insinuação tem um objectivo claro: levar a esquerda a pensar que se não votar no socratismo (corrente ideológica que José Gil identificou com o “chico-espertismo”), terá o cavaquismo na sua pior versão.

E o mais contraditório é que os dirigentes do PS, obcecados com esse estratagema, não dão conta que multiplicam contradições: apoiando-nos nos seus próprios raciocínios (de evocar o passado para justificar o futuro), também poderíamos concluir: quem ontem não cumpriu o que prometeu, não nos dá garantias de amanhã cumprir o que promete hoje; quem ontem só tratou bem Jorge Coelho não nos dá garantias de amanhã tratar bem professores, magistrados, funcionários públicos, operários e agricultores. E, ainda, quem se gaba tanto de possuir as “melhores ideias” para Portugal, por que será que está tão preocupado com a “perigosa” interferência dos assessores de Cavaco Silva na produção de boas ideias para o PSD?!...
Por que não se faz como no futebol?!… Tal como acontece com o mercado de jogadores, o mercado das “boas ideias” deveria ficar fechado no período eleitoral. E, de facto, qual é o interesse em despejar boas ideias durante este período, se o partido que vence as eleições não lhes vai dar nenhuma importância? Evitava-se a intriga política entre instituições fundamentais, preservava-se a dignidade do Estado, e tudo ficaria muito mais claro!..
Era melhor proceder dessa forma que teimar em fazer da política uma arte de armadilhar intrigas. Esses “truques” de que vive, hoje, a política, tem uma causa: faltam líderes fortes e debate ideológico.

Quando há líderes, as ideias ligam-se ao mundo da vida e configuram um pensamento estruturado, que não receia o debate, tendo como única preocupação abrir caminho ao progresso, à justiça e dar um sentido ao Futuro.
Faltando líderes fortes, a política navega na venalidade e no espectáculo, infantilizando os eleitores com jogos de ilusões e armadilhando suspeitas que insinuam receios ou medos do regresso de fantasmas. Mas o passado não se repete e, como já dizia Alvin Toffler, “o amanhã será, forçosamente, diferente do hoje”.

J,B.M.

Comments: Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?