quinta-feira, julho 09, 2009
Mais um amigo partiu!
Sempre que um amigo parte sem dizer adeus, ficamos mais pobres. São pedaços da nossa vida que se separam irremediavelmente.
Partiu o sr. Estrela e agora o dr. Horácio
Conheci o dr. Horácio Salgado Rodrigues há muitos, muitos anos. Foi o meu primeiro dentista. Enquanto tratava dos meus dentes abria horizontes de solidariedade e de amizade. Falava sobre o povo rural do Marco de Canaveses, da sua condição de vida e do que por ele poderia ser feito.
Fundou o Movimento de Promoção Rural do Marco de Canaveses. O seu objectivo era elevar o nível social, económico e cultural das populações mais carecidas.
Graças a este movimento construiu-se um estradão na Serra da Aboboreira, fizeram-se cursos agrícolas, de puericultura, de preparação para o matrimónio, etc.
O método de trabalho que impunha era claro: ver a situação das pessoas para sentir os seus problemas, reflectir para encontrar soluções e discuti-las com os visados até os mesmos se empenharem na resolução do que os afligia.
O dr. Horácio repetia sem exaustão: “o que se faz para as pessoas não pode ser feito sem as pessoas.”
No 25 de Abril, por volta da meia noite, levou umas garrafas de champanhe aos militares do Quartel de Cavalaria Seis, onde encontrou um nosso amigo comum, o coronel Martins Rodrigues.
Depois do 25 de Abril, separámo-nos: o dr. Horácio empenhou-se no PSD, de que era fundador, e eu enveredei por uma esquerda mais radical.
Demo-nos sempre bem, mesmo quando no cerco ao Quartel da Serra do Pilar estávamos em barricadas diferentes.
Em 1998, fundamos a Associação dos Amigos do Marco para lutar contra as arbitrariedades, a prepotência e os desmandos dum tiranete que se encontrava á frente da Câmara Municipal. Conseguimos que fosse julgado e condenado. Se a Justiça funcionasse e se o exercício da cidadania fosse um valor de honra e dignidade, naturalmente tal criatura nunca mais conseguiria voltar a dar da nossa Terra a imagem aviltante que tanto nos envergonhou.
O dr. Horácio ligou-se à política por razões de solidariedade com os que sofrem e têm direito a uma vida mais justa. Com ele a política tinha dignidade, porque era frontal, não entrava nos jogos de poder, orientava-se por valores e lutava com convicções e sentido de serviço. A sua luta dizia respeito ao mundo da vida e não à retórica fácil do blá…blá… de conveniência.
Quisemos fazer-lhe uma homenagem em vida, mas não foi possível. No próximo dia 7 de Setembro, em Ariz, onde ele estiver, vai sentir quanto apreço e amizade lhe dedicamos.
Não merecíamos que nos tivesse deixado tão cedo.
Onde estiver, dr. Horácio receba a nossa saudade. Não podemos esquecer um homem bom, de convicções, amigo e solidário.
Até sempre, Amigo!