sexta-feira, abril 24, 2009

 

25 de Abril, bem longe do 25 de Abril

Ao 25 de Abril aconteceu-lhe um pouco o que aconteceu a Camões: a falar de Camões muitos tornaram-se ricos e poderosos, enquanto o poeta morreu abandonado e na miséria.

Vinte e cinco de Abril foi mais do que uma revolução: foi a abertura de uma janela de esperança para um País mais justo, mais livre e mais igual.

A janela foi-se fechando e estamos cada vez mais longe do 25 de Abril. A justiça tornou-se numa farsa, a liberdade vai-se esvaziando pelo medo e a fraternidade rompeu-se pelo egoísmo ganancioso.

Vivemos uma crise profunda: o desemprego atingiu o valor mais alto nos últimos trinta anos e em cada hora há três portugueses que perdem o seu posto de trabalho, o número de pobres já ultrapassa, assustadoramente, os dois milhões e nenhuma sociedade pode promover a felicidade, se a maioria dos seus membros forem atirados para a pobreza, a miséria e a desilusão.

Significativamente, o Primeiro Ministro conjuga a governação, tal como Berluscony , na primeira pessoa: “o País que EU sempre quis… (…) EU não me poderia conformar…(…)“ etc. , etc.

Mas, num mundo em que os problemas são cada vez mais complexos, o que poderemos esperar de um Primeiro Ministro auto-suficiente, que não se abre ào diálogo, à colaboração, ao empenhamento de todos?!... E que credibilidade pode ter uma retórica mais reactiva que afirmativa e desenvolvida por um homem cujo rigor do seu currículo nos causa tanta surpresa quanta perplexidade!

O que se vai tornando evidente é que, hoje, só influencia politicamente quem tem poder económico e os que vivem do seu trabalho estão tão abandonados como está o espírito de Abril.

Não temos políticos: os deputados são funcionários obedientes e servidores dos dirigentes partidários para não perderem o seu lugar nas listas das próximas candidaturas; os partidos são agências de interesses que apenas visam as prebendas do poder e querem ganhá-lo, tal como os clubes de futebol querem ganhar um jogo.

Nenhuma reforma é possível, sem uma reforma de um sistema político que deixou de gerar sentido de Estado, premiar o mérito e desenvolver o espírito do bem-comum.

Bem longe vai o tempo em que a política era feita de sacrifícios, de horas esquecidas em colar cartazes, propor ideias, travar debates e em que um deputado de Braga vivia numa roulotte no parque de Monsanto. Nesse tempo, seria impossível pensar que a Assembleia da República iria gastar milhões em carros topo de gama, enquanto dois milhões de cidadãos portugueses passavam fome.

Talvez, por isso, em ano de todas as eleições, os próprios políticos achem que é demagógico tomar decisões políticas, como as de criminalizar o enriquecimento ilícito. Com isso, só podemos concluir que os partidos vão sublinhando aquilo que se vai tornando claro: nas épocas eleitorais, nesse período mais nobre para politicamente testemunhar procedimentos que ajudem os cidadãos a fazer escolhas conscientes e responsáveis, não os devemos levar a sério, porque eles próprios, os políticos, também não se levam a sério.

A política assemelha-se, hoje, a uma rua de má fama por onde não passa quem for pessoa de bem. A distância que nos separa de Abril é, hoje, já quase incomensurável. E a confirmá-lo estão os dados de uma sondagem: mais de 80% dos portugueses não se revêem nos políticos.

Comments:
Caros amigos
É verdade. Os valores e a dignidade esperadas em Abril, desapareceram. Veja o nosso Post 25 de Abril em http://forcemergente.blogspot.com
Estamos em andamento
Força Emergente
 
Estou mais na força reagente.
 
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