sexta-feira, outubro 24, 2008

 

Ao amigo e camarada com quem me cruzei em velhas lutas.


Caro Pedro Baptista:


Não vais ganhar a corrida à liderança distrital, porque a democracia aberta e responsável no interior do PS está doente e muito doente! É certo que o mesmo acontece em todos os outros partidos, mas isso não nos dá vantagem nenhuma.

Já não estou no PS há muito tempo. Mas tenho pena que, tal como eu, ninguém se sinta, hoje, representado pelos deputados ou pelos líderes; nenhum de nós sente que o seu voto vai ter correspondências nas expectativas que nos criam; nenhum de nós espera já lideranças de mérito, porque estas são impedidas pelo jogo de interesses, sindicatos de voto, tráfico de influências, etc.

Podia-se corrigir o mal-estar, que a falta de líderes prestigiados no Distrito do Porto cria, com uma reforma simples: votação em listas abertas (como já acontece em alguns partidos, em outros países), onde se pudesse exercer o legítimo e responsável direito de riscar os nomes que figuram nas listas, mas que não têm para o eleitor qualquer credibilidade. Sem esta pequenina reforma, não é possível impedir o que já está a acontecer no PS do Porto: o filho sucede ao pai, o padrinho apoia o afilhado, a namoradinha encontra uma cota para um lugar como deputada, etc.

Os partidos, tal como existem hoje, sem ideologia e transformados em grupos de interesse, tornaram-se todos iguais e estão a caminhar para o tipo de organizações mafiosas.

A grande crise, a crise mãe de todas as crises, é a crise de organização dos partidos. Vê como se debatem os problemas do País!... É sempre a olhar pelo espelho-retrovisor, acusando os adversários do que fizeram no passado. Negam o que a própria ciência considera fundamental: aprender com os erros, aceitar que o futuro está aberto e que o que aconteceu no passado não é crível que se repita no futuro. Além disso, que moral há para argumentar com o passado, se todos têm telhados de vidro?!...

Com as tuas ideias deste um excelente contributo para uma reforma do PS. É certo que, enquanto o PS for governo e mesmo nos próximos tempos, ela não vai acontecer! Procurarão exorcizar o teu pensamento com ataques pessoais. Mas continua a ser uma verdade incontornável que é na mediocridade confrangedora, na falta de credibilidade dos directórios partidários e no modo perverso de funcionamento dos partidos que está a causa de todas as crises: as crises financeiras, a crise nas escolas, a crise de sentido de Estado, a crise de serviço do bem-comum, a crise que leva à desmotivação dos que servem o Estado, etc.

Já reparaste que estão a desaparecer dos partidos os que, na nossa geração lutaram contra o fascismo?!... Eles, os teus adversários, não sabem o que era a luta pela democracia,pela liberdade, pela justiça e o preço que se pagava por essa luta, eles estão na política porque fora dela não são ninguém, eles não percebem que os partidos não se justificam por si, mas pelo que podem representar de expectativas de promoção de um bom governo, um governo que diminua o sofrimento dos que mais sofrem.

Se os partidos não retomarem a razão que lhes deu sentido, se não se reformarem, a democracia será um conceito vazio e sem interesse. Essa é a grande ameaça e foi contra isto a tua luta.

Não te agradecerão a forma aberta e frontal com que fizeste essa luta, mas um dia haverá quem te dará razão. Bem hajas por isso!!!

João Batista Magalhães

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