quarta-feira, julho 09, 2008

 

Um marco na História da Igreja em Portugal

Foi há 50 anos, mais precisamente no dia 13 de Julho, que D. António Ferreira Gomes enviou a Salazar uma carta que ficou para a História como “Carta do Bispo do Porto”.

É pena que seja apenas em Coimbra, e graças a um antigo dirigente da Acção Católica, que a efeméride é celebrada. D. António, os movimentos católicos que lutaram contra o fascismo na defesa das causas sociais proclamadas pela Igreja, bem mereciam que a Cidade Invicta não os esquecesse nesse dia.

A Carta do Bispo do Porto é um marco na história da Igreja em Portugal e foi o documento que mais prestigiou a cidade do Porto. Nesse documento, D. António distancia-se da imagem duma Igreja comprometida com a ditadura, defende o primado da dignidade humana, o respeito pelos direitos de consciência (“o comunismo pode coincidir com certas incidências concretas da sociologia cristã”), a defesa da liberdade (“o pluralismo das escolhas é um bem ao serviço da mensagem cristã”), indigna-se com o atraso no desenvolvimento do País (“Não poderei dizer quanto me aflige o já hoje exclusivo privilégio português do mendigo, do pé-descalço, do maltrapilha”) e coloca quatro questões a Salazar:


1ª "Tem o Estado qualquer objecção a que a Igreja ensine livremente e por todos os meios, principalmente através das organizações e serviços da Acção católica e da Imprensa, a sua doutrina social?”

2ª- “Tem o Estado qualquer objecção a que a Igreja autorize, aconselhe e estimule os católicos a que façam a sua formação cívico-política, de forma a tomarem plena consciência dos problemas da comunidade portuguesa, na concreta conjuntura presente, e estarem aptos a assumir as responsabilidades que lhes podem caber, como cidadãos católicos?”

3ª “Tem o Estado qualquer objecção a que os católicos definam, publiquem e propaguem o seu programa ou programas, politicamente situados, em concreto hic et nunc, o que evidentemente não pode ir sem o despertar de esperanças de mutações ousadas e substanciais e do seu clima emocional?”

4ª- “Tem o Estado qualquer objecção a que os católicos, se assim o entenderem e quando entenderem, iniciem o mínimo de organização e acção políticas, a fim de estarem aptos, nas próximas eleições legislativas ou quando julgarem oportuno, a concorrer ao sufrágio, com programa definido e com candidatos que prefiram?"

As respostas a estas questões nunca chegaram e em seu lugar, D. António Ferreira Gomes foi exilado, só regressando a Portugal em Julho de 1968, 10 anos depois, na era marcelista.

É pena que, num tempo, como o que vivemos hoje, dominados por uma mediocridade triunfante e uma ausência de valores, não se aproveite, também no Porto, esta efeméride para promover uma reflexão sobre um Documento que é uma referência de coragem, de convicções e de sentido de responsabilidade cívica e cristã.
Obs: enviei este texto, com uma só alteração, para, onde tenho uma colaboração regular:
http://www.grandeportotv.com/catalog/welcome.do?hasFlash=yes

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