sábado, julho 12, 2008

 

O telemóvel como arma do crime!

Hoje a investigação criminal faz-se apenas por escutas. Os criminosos ou desesperados da vida não combinam os seus actos pelo telemóvel e, assim, a polícia não consegue tomar medidas preventivas.

Numa das operações que visou assegurar que as armas “ilegais” são apreendidas, foram colocados, recentemente, em escuta alguns armeiros.
Toda a gente que anda na caça sabe que se falha uma perdiz ou um coelho, a culpa só pode ser de uma de duas coisas: da arma ou das munições. Por isso, os caçadores andam sempre a trocar de armas. Naturalmente, falam com os armeiros ou pedem a um amigo para saber se determinado armeiro tem uma arma com esta ou aquela característica e em bom preço. E isso leva à troca de telefonemas.
Ora, alguns caçadores apanhados por essas escutas, foram, há poucos dias, com grande alarido, surpreendidos por uma investida da GNR nas suas casas e tudo foi revistado a “pente fino”, como se se tratasse de perigosos criminosos.

A GNR poderia ter feito uma prévia investigação junto dos vizinhos para saber se tais indivíduos eram ou não perigosos, mas não foi isso que aconteceu: não há dinheiro para este tipo de trabalho e é mais fácil e menos dispendioso propor ao Tribunal umas escutas. Pouco interessa saber os custos que vai sofrer, na sua dignidade e no seu prestígio, o alvo da suspeita.

Entretanto, a GNR fez uma grande exposição de armas apreendidas. Mas em que consistiu esse troféu exposto à publicidade?

Armas velhas de caça, uma metralhadora que não funcionava, pistolas de colecção, etc.

Que criminosos foram presos? Os armeiros que telefonavam aos caçadores que queriam trocar armas, um pobre rapaz que concertava armas e não tinha licença para isso e quase duas dezenas de caçadores que não tinham as armas em cofres ou possuiam munições, como zagalotes, que hoje são proibidas.

Resultado final: só um ficou preso e os outros foram libertos.

No dia a seguir, a televisão mostra no bairro da Quinta da Fonte, concelho de Loures, indivíduos com armas na mão (não eram caçadores!...) aos tiros uns aos outros. A polícia não foi capaz de tomar medidas para prever essa situação criminosa. É que ela exigia mais do que colocar telefones em escuta: exigia ter atenção aos problemas de racismo e exclusão social (sempre, em qualquer parte do mundo, um barril de pólvora) e, ainda, combater o mercado negro de venda de armas, onde qualquer pessoa pode comprar uma arma.

Com a perseguição a quem tem armas antigas, a quem as compra nos armeiros, que sinal é dado a quem quer uma arma? É que a arma só pode ser adquirida na clandestinidade.

Será isso que quer o Ministro da Administração Interna?!...

Infelizmente, parece que estamos a ser governados por quem gosta do folclore.

Comments:
Desculpe mas folclore é o seu post. A GNR PSP pode indagar sobre actividades ilicítas, juntar informação, mas não tem uma varinha de condão para adivinhar quando um cidadão resolve praticar um crime.
Pra conseguir retirar as armas clandestinas, o M.Público teria que emitir mandados para centenas de milhares de residências portuguesas especialmente no campo onde acontece mais crime com armas de fogo e, não na cidade!
E sobre a utilização de escutas na investigação, não é o método mais fácil mas o possível. Como é que as Polícias conseguem penetrar no seio de famílias, grupos, organização criminosas; que eu saiba não costumam receber estranhos de braços abertos e pô-los ao corrente das suas “actividades”.
Ana (residente num suburbio)
 
Caro Primo;

De armas, armeiros e caçadores nada sei. Do que vi na TV passado num bairro periférico não gostei, e mais, preocupou-me... e muito.

Será que quem de direito está à altura para evitar a explosão do 'barril'?

[]

I.
 
Ana, eu até a percebo!

Mas ponha-se no lugar de uma pessoa que gosta da caça, tem licença de uso e porte de arma, recebe dois ou três telefonemas de um gerente de uma casa de armas, não chega a comprar nenhuma arma e de um dia para o outro sente a polícia a bater-lhe à porta e a virar dos pés para a cabeça tudo o que tem em casa à procura de armas ilegais e nada encontra!... Sinta, agora, o que pensam os vizinhos dessa pessoa!

Se a polícia, antes de entrar pela casa dentro dessa pessoa, perguntasse aos vizinhos, ficaria, pelo menos, com a ideia de que os vizinhos a tinham como pessoa de bem e teria de ponderar se era lícito criar à sua volta tanto alarido.

É que as pessoas têm o direito ao bom-nome. E a sociedade, o Estado, deve estimular este sentimento de honra e dignidade. Quem preza o seu bom-nome, a sua dignidade e a sua honra, não se mete em sarilhos. Mas, se nem o bom-nome serve para nada, então “tudo-vale”! Concordará comigo?!...

As armas que os criminosos utilizam não são compradas nos armeiros. Se numa estação dos caminhos-de-ferro estiver algum tempo parada, vai ver que aparece alguém a querer-lhe vender desde relógios a armas.

Os caçadores (pode-se discutir esse desporto, mas para saber alguma coisa sobre ele convém ler “Sobre a caça e os Touros” de Ortega Y Gasset) não usam armas clandestinas. Todos têm licença de uso e porte de armas, licença de caça, exames sobre a utilização de armas e sobre cinegética, sobre os animais que a que podem atirar e quando podem, colocam loquetes nos gatilhos das armas e estão habituados a saber que estas não são para ser utilizada contra ninguém.

Se as armas só fossem adquiridas em armeiros, o Estado, a Polícia, dispunha de todas as informações das pessoas que têm armas. Mas, se as armas forem adquiridas na clandestinidade, ninguém sabe quem as tem.

O problema que ultimamente surgiu de grupos armados nada tem a ver com caçadores, mas com gente que adquiriu armas na clandestinidade. Combater este crime não se faz com escutas, mas com polícia de investigação treinada para percorrer os sítios da venda de armas clandestinas. Este problema é como o problema do combate à droga. Não me parece que o combate à droga possa ser feito com escutas aos farmacêuticos ou aos indivíduos que têm receitas para comprar narcóticos.

Penso que fui mal entendido no post. Eu também tenho medo das armas clandestinas e tenho duas filhas que saem á noite e na família já tenho quem foi alvo de carjacking. Estou tanto apreensivo como a Ana, mas penso que esta perseguição aos caçadores é um tiro que não acerta no alvo.

Porque estou muito apreensivo com esta situação é que não vejo que as escutas, só por si, levem a apreender as armas clandestinas. O combate às armas ilegais tem de ser feito como o combate que se faz à droga. De contrário, é só folclore e não se vai ao cerne da questão.

Ainda bem que criei um debate sobre este assunto. E, por isso, agradeço-lhe o seu comentário.

Para a prima Isabel, a minha consideração de sempre.
 
Já reparou que do bairro da Fonte, aqui "juntinho" à capital, só detiveram dois rapazinhos? Que por sinal foram logo postos em liberdade, por via do novo Código de Processo Penal? Assim até dá gosto: uma pessoa pode "desatar" aos tiros na rua que não vai presa: fica só sujeita a apresentações periódicas no posto policial da área da respectiva resid^ncia...

Na verdade, estamos a viver grandes momentos de liberdade... para os criminosos e prevaricadores; as vítimas, essas, coitadas, resignam-se...aliás, este Portugal é hoje um País de resignados...

Primo, veja lá se tivesse querido trocar de caçadeira.... era suspeito, está a ver? Mas os criminosos, esses passeiam-se impunemente.
 
Hoje praticamente a investigação criminal só é feita por escutas. Com a colocação de chips ficam criadas as condições para um “big brother” tecnológico que devassará toda a nossa vida. A polícia fica com o seu papel muito facilitado (há sempre um juiz que despacha umas escutas), mas também os governos que não olham a meios para atingir os seus fins.

Ninguém nos pode garantir que não apareça um governo que aproveite os dados da polícia para classificar os cidadãos em duas categorias: os bons (os que merecem o apoio do governo, porque se harmonizam com os seus interesses) e os maus (os que não apoiam o governo e, por isso, devem ser preteridos no emprego e objecto de todas as medidas persecutórias).

Será que estamos dispostos a aceitar o policiamento das nossas vidas por um totalitarismo policial e burocrático de um “big brother teconológico”?!...

Perante isto, cada vez gosto mais do bastonário Marinho Pinto
 
Caro Primo

"Perante isto, cada vez gosto mais do bastonário Marinho Pinto"


Tb. eu!

Fica um abraço

IM
 
Todos já nos convencemos que não temos razões para confiar nos políticos. Cada vez estão mais interessados em servir os interesses particulares que o bem-comum. E não olham a meios nem têm problemas de consciência.

Como podemos justificar que não seja um escândalo os ordenados milionários de ex-políticos num Pais onde 35% dos trabalhadores não ganha para viverem com o mínimo de dignidade?!... Quantos pobres neste País estão a fazer um rico?!... Onde esta a ideia de "bem-governar"?!...

Marinho Pinto está na contra-corrente e nós precisamos dele. É o único comentador que não é “pago” para "dar a volta" ao pessoal com uma retórica cheia de truques. Vai ao cerne das questões, enquanto os outros fazem (desculpe a expressão) "punhetas a grilos".
 
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