quinta-feira, abril 17, 2008

 

Um testemunho que não me surpreende!

Substituindo um texto sobre Avelino que desapareceu, passo a transcrever a notícia da LUSA:

"Eles tinham alguma coisa montada para me matar", diz testemunha-chave

José Faria, testemunha-chave do processo contra Avelino Ferreira Torres, disse hoje à Lusa que a intenção do ex-presidente da Câmara Municipal de Marco de Canaveses era matá-lo no Brasil.

"A intenção deles era eu não voltar mais. De certeza absoluta que eles tinham alguma coisa montada para me matar aqui e nunca mais ninguém sabia de mim. Só podia ser isso", afirmou.

Em declarações aos jornalistas quarta-feira, Ferreira Torres negou qualquer envolvimento na deslocação de José Faria para o Brasil e na sua alegada agressão.

Desde que foi levado, como diz, por Ferreira Torres de Marco de Canaveses ao Porto e depois para o Aeroporto de Madrid por um homem chamado José de Sousa, no dia 05 de Abril, a testemunha-chave do processo contra Ferreira Torres refere que tem vivido dias de medo.

Ao chegar a Madrid, a testemunha-chave surpreendeu-se por José de Sousa ter alegadamente evitado as instalações do aeroporto, supostamente para não ser filmado.

"Mas eu fui mais inteligente que eles e levei-o para dentro. Se pedirem ao aeroporto as filmagens, vão encontrar ele lá comigo", disse.

Quando aterrou no Aeroporto Internacional de São Paulo, na manhã do dia 06 de Abril, foi recebido por um homem chamado Moreno, que o levou até um pequeno hotel, no Bairro da Liberdade, na região central da cidade.

"Eu estranhei. Perguntei o que está a passar-se, mas ele disse-me que estava ali para me acompanhar", afirmou.

O acompanhante ficou hospedado num quarto ao lado de José Faria. Na manhã seguinte, segunda-feira, ele disse que os dois teriam que seguir viagem para a região Nordeste do Brasil.

"Disse não vou para o Nordeste. A seguir, ele (Moreno) começou a ficar zangado e a dizer que já estava cansado de tudo aquilo. Começámos a lutar e eu consegui escapar com cinco dentes partidos", disse José Faria.

José Faria deixou a mala para trás, correu até à porta do hotel, entrou no primeiro táxi que avistou e seguiu para casa de parentes em Santos, a cerca de 100 quilómetros de São Paulo.

Ao chegar, foi directo ao dentista, onde recebeu 25 pontos, refez uma pequena prótese que também tinha sido partida durante a luta e foi medicado.

"A intenção deles era matar-me. Aquilo era um grupo terrorista. Ferreira Torres é um homem mentiroso, muito perigoso, pode ser incapaz de matar, mas paga para matar", disse.

Desde então, está hospedado num endereço não revelado, na casa de uma tia, na região de Bom Retiro, periferia da cidade de Santos, onde tem muitos primos.

Nunca fica sozinho, está sempre na companhia de um primo. À noite permanece dentro da morada, porque - alega - "pode aparecer um segundo Moreno".

Passa o dia a dar entrevistas ao telefone e a acompanhar o primo advogado José Mendes, há 40 anos no Brasil, em visitas a clientes.

Concordou em falar com a agência Lusa desde que o encontro fosse no pequeno escritório de advocacia e de contabilidade do primo.

A testemunha-chave está a tomar a medicação que o acompanha desde 2005, um comprimido para dormir à noite e dois pela manhã contra o stress.

Com 25 anos como funcionário da Câmara de Marco de Canaveses, José Faria disse que nos últimos quatro anos do mandato de Ferreira Torres andou como "criado, testa-de-ferro" dos negócios do ex-presidente.

"Ele mandava eu comprar os terrenos, e eu comprava. Depois disse que pagava tudo às Finanças, e nunca pagou. Se eu não obedecesse, ele mandava-me embora. Aquilo é uma ordem que ele dá, tem de ser feita. Meteram-me no corredor da morte", disse.

"A 09 de Agosto de 2005, por causa da dívida de 65.000 euros às Finanças, eu com mais vergonha que ele dei um tiro na cabeça", disse, ao mostrar a cicatriz no lado direito da têmpora.

"Felizmente, Nossa Senhora salvou-me. Ele (Ferreira Torres) chegou a visitar-me no hospital e disse à minha família que mandaria a secretária pagar a dívida. Só que nunca pagou e eu tive que pagar tudo", referiu.

José Faria disse que a promessa do ex-presidente da Câmara Municipal de Marco de Canaveses era enviar os 65.000 euros para uma conta bancária em seu nome, no Brasil.

"Ele mandou eu abrir uma conta, no Brasil, e prometer que nunca mais voltaria a Portugal. Eu prometi, mas a minha intenção era receber o dinheiro e regressar logo para Portugal. Pedi a um primo para fornecer uma conta, mas o depósito nunca foi feito", sublinhou.

Nas suas declarações quarta-feira aos jornalistas, Ferreira Torres negou também a tese de que teria convencido José Faria a ir para o Brasil em troca do pagamento de uma dívida às Finanças.

Ferreira Torres atribuiu a ida de José Faria para o Brasil ao alegado facto de dever "mais de um milhão de contos" [cinco milhões de euros] a indivíduos de raça cigana que rotulou de
"perigosos".

José Faria avançou hoje à Lusa que a sua intenção quando regressar a Portugal quinta-feira, dia 24 de Abril, é "falar toda a verdade".

"Quero que a Polícia Judiciária e o Ministério Público investiguem quem é esse senhor Sousa", afirmou, referindo-se ao homem que o levou do Porto a Madrid.

"Ele disse que era um indivíduo perigoso, tinha uma rede internacional, que era amigo íntimo do ministro da Justiça e que numa hora mandava o procurador de Marco para o Algarve ou para Trás-dos-Montes", salientou.

Quando regressar a Portugal, José Faria planeia ir directo ao Ministério Público "prestar as declarações devidas e pedir para investigar essa novela".

José Faria salientou que as últimas duas chamadas recebidas no seu telemóvel português, actualmente desligado, nas vésperas de seu embarque para o Brasil, foram de José de Sousa e de Ferreira Torres.

"Se a Polícia for a minha casa buscar esse telefone, poderá verificar essas duas chamadas. Isso prova que realmente eles estavam em contacto comigo", afirmou.

"Quero acabar com o tipo de políticos deste género no meu país. Tem que acabar. Era uma corrupção imensa, total", disse também José Faria à Agência Lusa.

A testemunha-chave disse que pediu protecção policial, em Portugal e no Brasil, mas que ainda não foi procurado pelas autoridades.

"Parece que me foi concedida. O meu irmão disse que foi aceite o pedido. Disseram, também, que a Polícia brasileira iria falar comigo, mas até agora não fui procurado", disse.

A testemunha-chave voltou a dizer que Ferreira Torres é "especialista em mandar testemunha-chave para fora de Portugal".

Segundo ele, após um incêndio na fábrica FT (Ferreira Torres) de produtos têxteis, no Porto, há anos atrás, o ex-presidente da Câmara teria enviado o ex-sócio para Angola.

"Ele fez isso com muita gente e agora ele fez comigo, que, nos últimos quatro anos, andava só ao serviço dele", disse.

"Comprei toneladas de velas para ele fazer feitiços em casa. Velas com 20, 25 centímetros, amarelas, azuis. Cheguei a mandar vir velas da Argentina. Ele acredita muito em bruxarias", afirmou.

Em férias até 08 de Maio, José Faria planeia igualmente regressar às suas funções como funcionário administrativo, actualmente a trabalhar nas piscinas municipais.

"Ando aqui no Brasil com o coração a sangrar. Tenho saudades", disse José Faria, visivelmente emocionado, ao lembrar a esposa, as duas filhas e a neta.

Avelino Ferreira Torres começou quarta-feira a ser julgado no Tribunal de Marco de Canaveses pelos crimes de corrupção, extorsão, abuso de poder e peculato.

17 de Abril de 2008, 20:53
Marco Antinossi, da Agência Lusa

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