quinta-feira, março 27, 2008

 

A indisciplina nas escolas

A indisciplina dos alunos tem-se agravado assustadoramente nos últimos anos e estou de acordo com quem diz que da escola saem, por vezes, os bandos de criminosos que actuam na sociedade.

Dois testemunhos pessoais:

1º Há uns anos atrás, durante uma aula, um aluno aproveitou o facto de eu estar de costas a explicar determinada matéria para atirar uma bola a um companheiro. Virei-me para ele e num acto instintivo preguei-lhe uma bofetada. Sabia que um professor tinha ficado suspenso durante dois anos por ter tido um gesto semelhante ao meu. Antes que o aluno chegasse a casa, telefonei ao pai desse aluno e expliquei-lhe o sucedido: o pai agradeceu-me e disse-me que quando o seu filho chegasse a casa ainda apanharia mais. Esqueci a questão, o aluno tornou-se meu amigo, entrou em medicina e, hoje, é um médico respeitável e um amigo sincero.

O Pai não pertencia a nenhuma associação de pais e, talvez, isso fosse a minha sorte!

2º Antes da minha aposentação, estive no designado ano zero a receber os alunos que eram expulsos das aulas por indisciplina. A minha tarefa era ocupar esses alunos durante o período da expulsão. A um dos alunos que, frequentemente, me aparecia, disse-lhe: hoje és expulso, vens para aqui todo contente, mas amanhã, quando saíres da escola, a sociedade não te manda para o gabinete do professor tutor: vais directamente para a cadeia e aí não gozas com os teus superiores.

Não foi preciso esperar que saísse da escola: foi preso por fazer parte do bando que participou no homicídio de um transsexual.

Estes dois casos servem só para dizer o seguinte: a autoridade do professor passa por aquilo que ele pode significar para o aluno. Uma escola burocratizada, como a que temos, não deixa espaço às referências de sentido que só o fortalecimento da autoridade do professor consegue dar.

Este ministério transformou o professor em guardador de rebanhos, sem significado para os alunos.

Os conselhos disciplinares são reuniões saturantes pelo ouvir dos representantes da associação de pais o discurso do “se calhar, se o professor não fizesse isto ou aquilo o aluno não teria feito isto ou aquilo”.

Com a retórica do “se calhar…” é impossível ser-se professor, fazer respeitar a possibilidade de dar testemunho dum saber que consubstancia o exercício de ensinar.
Esta questão, acompanhada da incompetência de um Ministério pautado pela ausência da experiência do que se passa nas escolas, é um dos problema essenciais da escola pública.
Pensem, por exemplo, no que poderia acontecer a um professor que, em Portugal, procedesse como este, perante toques de telemóvel!
http://www.youtube.com/watch?v=hut3VRL5XRE
Se querem uma referência para avaliar o que aconteceria a esse professor, sirvam-se, agora, do exemplo da Ministra da Educação:
http://www.youtube.com/watch?v=7unQICIEsgs
Será que ainda têm dúvidas da ideia que esta Ministra tem da disciplina e da autoridade do professor na escola?!...
Percebem, agora, por que a Ministra reduz os problemas da escola a estatísticas?!...

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