terça-feira, fevereiro 26, 2008

 

No rescaldo do debate sobre a escola

Na tertúlia que, praticamente, tenho todos os dias durante o café da manhã, um denominador comum foi encontrado. Os professores mostraram no debate “Prós e Contras” que têm sentido de responsabilidade e encaram a sua profissão com espírito de missão e a Ministra revelou que não está à altura do cargo que ocupa. Sou o único professor nesta tertúlia e ouvir isso significou, para mim, sentir-me justiçado.

Em tempos, nas sessões de formação que frequentei, fiz um trabalho sobre o que entendo por causas da degradação do ensino. Referi duas:

1ª -Enxertou-se no nosso sistema de organização escolar o conceito de “comunidade educativa” importado pelos que fizeram pós-graduações em Ciências da Educação nos Estados Unidos. O conceito de “comunidade educativa” justificava-se numa tradição de emigrantes, mas não se justifica numa cultura individualista, onde o pequeno grupo de pais que vai à escola apenas está interessado que o seu filho entre em “medicina”, onde pensam que terá futuro garantido. Ou então, que a escola funcione como um depósito, a tempo inteiro, dos seus filhos. As aulas de substituição integraram-se nessa lógica e são o maior embuste que foi criado na escola. Quem por lá anda sabe que é verdade o que digo.

2ª- Desprezou-se o papel social dos professores como formadores de cidadãos responsáveis e profissionais competentes. Hoje não se pede aos professores que transmitam conhecimentos, mas que entretenham os meninos sempre que os seus colegas são obrigados a faltar. E a desautorização disciplinar dos professores levou ao ridículo de introduzir nos conselhos disciplinares regras que tornavam os castigos quase impossíveis de aplicar. O resultado está á vista.

Quem é professor sabe que não é possível exercer esta profissão sem possuir espaço para dar testemunho dum saber e ter autoridade para o fazer respeitar. A escola, hoje, não é um local de trabalho, está entregue a rodriguinhos pseudo-pedagógico-didácticos e tornou-se num sítio de desespero para quem lá trabalha.

Não há, hoje, quem goste de ser professor. E isso deve-se a uma equipa ministerial tão incompetente como arrogante e sem uma ideia para o futuro da escola. E com isso, não é só o futuro dos nossos filhos que está em causa: é também a nossa dignidade colectiva.

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