terça-feira, fevereiro 05, 2008

 

É altura de dizer: basta!...

O critério decisivo da democracia é, desde Atenas, a possibilidade de aprendermos com os erros. O déspota tem o seu "código de honra" que não admite a dúvida e muito menos o erro. Na democracia não há códigos de honra privados, sejam das instituições ou de quem as representam. É que a democracia é um regime aberto, onde a imprevisibilidade faz aumentar as responsabilidades do presente pelas suas consequências no futuro. Em democracia, o fim último da economia, da educação, da política , da investigação criminal, é só um: a dignidade da pessoa humana. Por isso, a soberania dos diferentes orgãos de poder só ganha sentido no servir o valor fundamental da democracia: a justiça, a liberdade e a paz.

Os novos analistas políticos já não pensam assim. Para eles, a política é um jogo e a vida são as peças que eles colocam no tabuleiro de xadrez. Os factos não contam, o que conta são as interpretações aliciantes com que, a priori, deformam os factos. O que lhes interessa é a encenação, o espectáculo, o que possa salvar aparências. Não valorizam, por isso, a honestidade intelectual de quem tem preocupações de verdade no cargo que desempenha. E só há responsabilidade onde há preocupação de verdade.


Ouçam Marcelo Ribeiro de Sousa, o “Professor”, e pensem no que ele diz sobre o Director Nacional da PJ. Pouco lhe interessa o sofrimento que causa à família McCann a suspeita que a condição de arguido lhe possa criar. Muito menos lhe interessa o rigor intelectual de quem é responsável último pela investigação do caso Maddie. Para o Professor, o fundamental é o “não matar” o “código de honra” da polícia. Por isso diz: “se isto (a precipitação) é no processo mais badalado, como é que andarão os processos por aí na Justiça portuguesa?» E toma o acidente da “precipitação” pelo essencial de todas as investigações da PJ, como é o estilo próprio do sofista.

Ouçam o que o ex-bastonário e empresário de advogados Júdice diz. Não lhe interessa saber se é ou não um facto haver crimes sem castigo na hierarquia do Estado ou se a corrupção real (como, p.ex., da promiscuidade entre advogados e políticos) deve ou não ser denunciada! Mais importante que falar da própria realidade, interessa-lhe promover um ataque “ad hominem” e “ad terrorem”. Diz Judice: «António Marinho Pinto é um “demagogo” e com as suas denúncias está a preparar-se para ser candidato às eleições presidenciais de 2011 e ser um outro Chávez»

Com estes analistas, muito honestos e muito explicativos, os factos não são o que são, mas o que já está, aprioristicamente, nas suas falaciosas cabeças; a democracia não é uma instituição onde é possível corrigir erros, mas o sistema que lhes permite fazer do nosso destino um jogo, onde só eles, cinicamente, colocam os dados no tabuleiro da nossa vida colectiva.

É altura de dizer a estes sofistas: basta!....

Comments: Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?