quarta-feira, outubro 10, 2007

 

“Escuta Zé Ninguém”

Lembro-me do Corta-fitas. Antes de aparecer, já os esbirros da PIDE tinham de madrugada vasculhado as casas dos opositores ao seu regime, procurando algo que considerassem subversivo: um panfleto da denúncia do custo de vida, da fome e da miséria. Se esse panfleto aparecia o cidadão era preso e se nada era encontrado de subversivo esse mesmo cidadão era levado como medida preventiva. Tudo isto era feito para que o “Corta-fitas” desempenhasse com grandeza, solenidade e fausto a sua patriótica missão de tesourar uma inauguração e enaltecer as virtudes do regime, convenientemente aplaudido por muita gente (todos os “zé ninguém”-- arrebanhados pela necessidade de assegurar o seu emprego, mostrando-se à corte do Corta-fitas).

O 25 de Abril surgiu e pensou-se que esse embuste acabaria. Mas estamos hoje longe, muito longe do 25 de Abril!!!... Reciclou-se, pelo lado menos esperado, o estilo Corta-fitas Usa perfume francês, veste os melhores padrões da moda, é sempre muito explicativo e recebeu uma nova imagem: o “Fiteiro”. Tem retórica escorregadia e recuperou, de forma envergonhada, os tiques do “Corta-fitas”. Assim aconteceu na Covilhã. Antes do “Fiteiro” propagandear as suas virtudes, já a polícia tinha entrado no sindicato dos professores para vasculhar o que havia de subversivo. Como é natural, o “Fiteiro” muito explicativo não sabia explicar o evidente: desconhecia tudo e “a única coisa que sabia era o que tinha lido nos jornais”.

São assim os Fiteiros: querem parecer o que não são e procuram com uma lábia adocicada dar a volta às contrariedades para não mostrarem as mãos sujas da ignominia.

Os Fiteiros têm sempre uma larga base de apoio: os "Zés Ninguém".

Mas os “Zés Ninguém” que se ponham em aviso. É isso que lhes lembra Bertold Brecht:

Escuta “Zé Ninguém”:

«Primeiro, eles vieram buscar os comunistas.

Não disse nada, pois não era comunista;
Depois, vieram buscar os judeus.
Nada disse, pois não era judeu;
Em seguida, foi a vez dos operários.
Continuei em silêncio, pois não era sindicalizado;
Mais tarde, levaram os católicos.
Nem uma palavra pronunciei, pois não sou católico.
Agora, eles vieram-me buscar a mim,
e quando isso aconteceu, não havia mais ninguém para protestar».
Bertold Brecht.
in:Escuta Zé Ninguém

Comments:
Tomei a liberdade de mandar a minha clientela para este texto.
Abraço
 
Fez muito bem! A liberdade é o melhor da vida. E pode dizer que já pedi desculpa de me ter inscrito no partido ocupado por Sócrates. Não estou, hoje, ligado a nenhum partido, mas continuo ideologicamente socialista. Penso que o PS desapareceu: há o socratinismo!
 
Então, perdemos tempo, perdemos o Império, reduzimos Portugal a um país de serviços... não está mal... para além do facto das grandes negociatas aí estarem presentes, pela mão destes grandes "socialistas"...
 
Amigo Cabral:

Já não o ouvia Há muito tempo!...
 
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