quinta-feira, agosto 30, 2007

 

Os ases do voo

Esta manhã a equipe do Red Bull Air Race fez as suas acrobacias mesmo junto às águas do Douro. Em cada passagem de um avião, sentia-se a emoção do risco e do espectáculo. Mas a rotina e a aproximação do almoço começaram a criar um sentimento de saturação. Nesta altura, veio-me à imaginação um instinto malvado e sádico de esperar que algo, um frémito de emoção (sem se aleijarem, naturalmente!) me arrebatasse. Ao dar conta da perversidade destas cogitações íntimas, desabafei com os meus botões: «primo, afinal tu não és tão boa pessoa como te julgas, não passas de um dos muitos filhos da mãe que por aí andam esquecidos, tens em ti a maldade de que falou Hobbes e não o bom coração apregoado por Rousseau».

E enquanto este diálogo decorria, no segredo da minha consciência, reparei num grupo de velhinhos de um lar da Ribeira colocados mesmo na frente das grades que nos separavam do Rio, indiferentes às acrobacias e barulho dos aviões, dormitando com a cabeça virada para o chão e o olhar recolhido nas asas do infinito.

Descobri que tenho de esperar mais algum tempo para ser possuído pela experiência sábia da vetusta idade: saber que a felicidade só se conquista com a indiferença pelo efémero.

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