sexta-feira, abril 27, 2007
O auto-elogio nunca foi uma virtude política

Naturalmente, ninguém esperaria que Pina Moura deixasse à porta da TVI a sua ideologia. Quem o conheceu desde o tempo em que militava na Juventude do PC, lembra-se do seu controleirismo compulsivo (e até sectário). Este vício não se perde com a idade e muito menos com a mudança de um partido de luta (PCP) para um partido de poder, como é o PS.
Não fica bem a Pina Moura o elogio que faz de si mesmo. Até, porque não o merece! Não se conhece nenhum cargo que Pina Moura tenha exercido que não tivesse sido indicado pelo PS. E o facto de ter sido ministro não pode, por si só, dizer muito da sua propagada competência. Pelo contrário: os bons gestores raramente aceitam ser ministros.
Também afirmar que «a sua luta clandestina contra a ditadura foi em nome dos mesmos valores com que esteve no Governo de Portugal e no seu Parlamento» é retórica que já não convence. Uma árvore avalia-se pelos seus frutos e se olharmos para a vida dos portugueses teremos de concluir que bem melhor seria, então, Pina Moura ficar quieto. É que todos os indicadores vão no sentido de se dizer que a vida dos portugueses está cada vez pior em relação à dos outros povos europeus.
E cá dentro, em Portugal, o que se ouve é o seguinte: Pina Moura ( e outros que tais) com a sua retórica sobre «a construção de um Portugal mais justo» vai vendo a sua vidinha a melhorar todos os dias, enquanto os que precisavam de mais justiça social, vão-se sentindo, cada vez mais injustiçados: o desemprego aumenta, a precariedade do trabalho tornou-se escandalosa, só conta o lucro, perdeu-se a dimensão social da empresa, ficou sem dignidade o trabalho na função pública e até apareceram as universidades da contrafacção de diplomas.
Seria bem melhor que os políticos pensassem nas expectativas que frustraram, do que pavonearem virtudes.
Seria bem melhor que Pina Moura e outros como ele, em vez de publicitarem o que fizeram por Portugal, avaliassem os danos que causaram na vida democrática, no sistema educativo, na saúde, na justiça e, sobretudo, na vida dos que mais sofrem.
O auto-elogio nunca foi uma virtude política, nem augura um bom desempenho de um cargo.