sexta-feira, março 23, 2007

 


(…)
Mas tudo cansa! Apagam-se nas frentes

Os candelabros, como estrelas, pouco a pouco;
Da solidão regouga um cauteleiro rouco;
Tornam-se mausoléus as armações fulgentes.

“Dó da miséria!... Compaixão de mim!...”

E, nas esquinas, calvo, eterno, sem repouso,
Pede-me sempre esmola um homenzinho idoso,
Meu velho professor nas aulas de latim!

(...)E os guardas, que revistam as escadas,
Caminham de lanterna e servem de chaveiros;
Por cima, as imorais, nos seus roupões ligeiros,
Tossem, fumando, sobre as pedras da calçada.

E, enorme, nesta massa irregular

De prédios sepulcrais, com dimensões de montes,
A Dor humana busca os amplos horizontes,
E tem marés, de fel, como um sinistro mar!

Cesário Verde

Comments:
Conheço muito pouco de Cesário Verde. Fui à procura dum poema mais alegre, mais optimista (porque este é muito triste e está aqui - na primeira página - há tempo a mais) e não encontrei!!!

Portanto, sem poema de Cesário Verde, só por ora - que não desisto assim, espero que tenha um Bom início de semana.

(Já senti falta de vir aqui dizer-lhe estas coisas)
 
Queria dizer "(Já sentia...)"
 
Cesário foi um admirável poeta. lembra-se de:

Naquele “pic-nic” de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão de bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, indo o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos
E pão de ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
 
Não conhecia ou, então, estava profundamente esquecido. Aproveitei e fui à procura, desse e doutros, mas continuo a sentir pouca afinidade com Cesário Verde. Não o li quando devia - há um "tempo certo" para tudo - e, por isso, sinto-me distante dele.
 
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