quinta-feira, fevereiro 15, 2007

 

O professor Marcelo

Depois de termos sobrevivido à desilusão de percebermos que a saudade não é um exclusivo nacional, que não existem linces na Malcata e que já nem somos os únicos a cozinhar bacalhau consola-nos descobrir que temos um novo ícone da singularidade lusa: o professor Marcelo.

Como bem se percebe, o professor Marcelo nada tem a ver com o cidadão Marcelo Rebelo de Sousa. O professor Marcelo não é uma pessoa. É um posto.

Os romanos, povo de sentido indiscutivelmente prático, - quem senão eles poderiam chamar Primeiro, Segundo ou Terceiro aos filhos? - acharam por bem criar um cargo que, à falta de mais pacífica designação, adquiriu o nome de quem o ocupava.

Falo obviamente dos césares. Portugal não é o Império Romano, logo não falamos de césares e pretorianos mas sim do que disse o professor Marcelo, essa espécie de holograma que ora nos narra tudo o que fez nos últimos sete dias - e esse tudo implica pelo menos um concerto na Baviera e uma palestra em terras de Basto, uma aula sobre Direito em Luanda, três pareceres, duas apresentações de livros e um jogo de futebol – ora nos enreda nas voltas e contravoltas do seu raciocínio tão narcísico quanto hiperactivo.

Nas palavras do professor Marcelo os crimes não têm pena e o 'não' passa a 'sim'. Mas nada disto importa porque o professor Marcelo usa as palavras como outros deitam cartas. Mais do que o explicador de Portugal ao povo e às crianças, ele é o grande ilusionista da nação.

O professor Marcelo, que repito nada tem a ver com o cidadão Marcelo Rebelo de Sousa, foi ministro dos Assuntos Parlamentares e presidente da Assembleia Municipal de Celorico de Basto. Aparte isso também foi líder do PSD e candidato à presidência da CML.

Sendo a soma de tudo isto alguma coisa, teremos de reconhecer que curricula destes não são raros, mesmo em Portugal. Raro, raríssimo até, é um homem que, como Marcelo Rebelo de Sousa, falhou em quase tudo no plano executivo conseguir ocupar tão elevado posto. O de professor Marcelo.

Helena Matos
PÚBLICO, 13 de Fevereiro

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