domingo, fevereiro 18, 2007

 

Em memória de André Breton

Um homem e uma mulher absolutamente brancos.
Lá no fundo do guarda-sol vejo as prostitutas maravilhosas
Com trajes um pouco antiquados do lado da lanterna cor dos bosques.
Levam a passear consigo um grande pedaço de papel estampado.
Esse papel que não se pode ver sem que o coração se nos aperte nos andares altos de uma casa em demolição.
Ou uma concha de mármore branco caída no caminho. Ou um colar dessas argolas que se confundem atrás delas nos espelhos.
O grande instinto da combustão conquista as ruas onde elas caminham.
Direitas como flores queimadas.
Com os olhos na distância levantando um vento de pedra.
Enquanto imóveis se abismam no centro da voragem.
Nada se iguala para mim ao sentido do seu pensamento desligado.
A frescura do regato onde os sapatinhos delas banham a sombra dos seus bicos.
A realidade daqueles molhos de feno cortado onde desaparecem.
Vejo os seus seios que abrem uma nesga de sol na noite profunda.
E que se abaixam e se elevam a um ritmo que é a única exacta medida da vida.
Vejo os seus seios que são estrelas sobre as ondas Seios onde chove para sempre o invisível leite azul

André Breton (1896-1966)

Bibliografia:

André Breton nasceu em Tinchebray, Orne, em 1896. É considerado pai e fundador do movimento surrealista.

Estudou medicina e, durante a Primeira Guerra Mundial, prestou serviço nos centros de psiquiatria do exército, o que o levou a estudar as obras de Freud e a interessar-se pelo mundo do inconsciente.

Em 1919 ligou-se ao movimento dadaísta e já sob a influência de Rimbaud, Apollinaire e Mallarmé, publicou o livro de poemas "Mont de piété", cuja violência verbal antecipava obras posteriores.

Em colaboração com Philippe Soupault e Louis Aragon, fundou a revista Littérature, de cujo programa constava a ruptura com valores estéticos e éticos dominantes, a reflexão sobre a criação poética, a proclamação da primazia dos componentes oníricos sobre os racionais, a exploração literária do inconsciente, através da escrita automática. Considerava que a arte e a política eram indissociáveis e que se deveria fazer do caos e da desordem expressões estéticas.

Em 1924 escreveu o "Manifeste du surréalisme", reunindo à sua volta, entre outros, Eluard, Aragon, Péret, Picasso, Soupault, Artaud, Narville, e Cicon. O orgão deste movimento era a revista "La Révolution Surrealiste".

Em coautoria com Leon Trotsky, escreveu em 1938, "Por uma arte revolucionária independente”.


Em 1937 publicou o conto "O amor louco”, verdadeira síntese da sua obra.

Perante a crise ideológica de 1929, que ameaçava dividir o movimento, André Breton, publica o "2º Manifeste du Surréalisme e rompe com o Partido Comunista.

Nessa altura, fundou a revista "Le Surréalisme au Service de la Révolution" e publicou o panfleto "Position politique du Surréalisme".

Graças ao trotskista Victor Serge, fugiu de França, ocupada pelos nazis, e exilou-se nos Estados Unidos, com Jacqueline Lamba –- sua segunda mulher e musa. Os dois, nessa fuga, foram hóspedes de artistas como Gordon Onslow Ford, Picasso e conheceram Peggy Guggenheim, Serge, Goldberg, o antropólogo Levy Strauss e Wifredo Lam.

Depois da segunda guerra mundial, Breton regressou a França, continuando líder do surrealismo.

Defendeu a eliminação das barreiras entre o sonho e a realidade, a razão e a loucura, e contribuiu para fazer do surrealismo o encontro do temporal do mundo com os valores eternos do amor, da liberdade e da poesia.

Escreve, a propósito: "Tudo nos leva a acreditar que existe um certo estado da mente em que vida e morte, o real e o imaginário, passado e futuro, o comunicável e o incomunicável, altura e profundidade não são mais percebidos como contraditórios"-- " Segundo Manifesto do Surrealismo" (1929).

André Breton faleceu em Paris, em 1966.

Comments:
Este tema agrada-me. Já procurei, encontrei e imprimi. Irei ler os manifestos do surrealismo.
 
Leia também "A Ampola Miraculosa" de Alexandre Onill
 
Caros amigos já ouviram, a próposito de surrealismo, a última entrevista de Mário Cesariny , em audio?, a não perder, aqui:http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Cultura/Interior.aspx?content_id=12486
 
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