quinta-feira, fevereiro 08, 2007

 

As armadilhas do “Não”.

Os defensores do NÃO à despenalização construíram duas armadilhas semânticas:

1ª armadilha: defender SIM significa defender o aborto.
2ª armadilha: dizer NÃO significa ser contra o aborto.

Manipula-se, assim, a questão central do referendo: dizer se se concorda ou não com a despenalização da IVG.

Quem leva a bandeira desta cruzada é o Prof. Gentil Martins. Num tom de voz irritante, esclareceu, na SIC-Notícias, que as mulheres que têm recorrido ao aborto são «levianas que enganam os maridos» e, por isso, segundo o Professor, «nunca irão aos hospitais, preferindo a clandestinidade do vão-de-escada para abortar». E, (contraditoriamente) acrescentou: «depois, vêm para a televisão apregoá-lo».

Com este fundamentalismo cristão, não há crente que resista. Nem mesmo o padre de Viseu, Manuel Costa Pinto, que claramente afirmou (como é, hoje,noticiado): «votarei "sim" no referendo do próximo domingo, porque entendo que deve acabar a humilhação das mulheres em tribunal e o verdadeiro infanticídio a que obriga a lei actual (…) A mulher deve ser libertada dessa coisa vergonhosa que é o julgamento e também o castigo da prisão”». E lembrou as palavras de Cristo: ”aquele que estiver sem pecado que atire a primeira pedra”.

Comments:
Admiro a sua persistência bom amigo. Quando todos andam já cansados do tema, encontramos uma margem que se mantêm alerta.
Eu não consigo dizer mais nada sobre isto. Ando, permita-me o desabafo, enojada com o que ouço.
 
Eu não sou persistente nem deixo de o ser. Convictamente sou solidário com as mulheres, na maioria jovens, que sofrem o desespero de ficarem grávidas sem desejarem ser mães. E para mim a questão é simples: defender o direito a ser mãe, significa defender que só devem gerar um filho quem o faz com amor. Não é mãe a senhora que gere um filho que não deseja.

Olhe, no Domingo tinha um convite para ir a Aljustrel ver uma zona de caça. Indignei-me com os companheiros que me convidaram por defenderem o SIM e não irem votar. Achei uma falta de sentido de cidadania e de solidariedade.

As nossas convicções só são úteis, quando as defendemos. E defender uma convicção é debatê-la, respeitando as ideias contrárias e sujeitando-se a ter de as corrigir, se estiver enganado.
 
Está a ver porque gosto de vir aqui ler o que escreve??!!
Eu não consigo fazer o bom uso das palavras que o Primo faz.
Quando falava de persistência, referia-me a esse traço solidário e combativo de convicções e ideias.
Já sabe que quanto a esta matéria estou inteiramente de acordo consigo.
Esta sua frase "sofrem o desespero de ficarem grávidas sem desejarem ser mães." diz muito e poucos o entendem.
 
Não faz mal! É a vida.
um Xi coração
 
Governo deve tomar medidas em vez de pedir ao povo a solução

Não ! - Não à legalização do aborto através da falsa bandeira (engodo) da despenalização !

A despenalização do aborto é outra forma enganadora de combater o aborto. O número de interrupções de gravidez, no mínimo, triplicará (uma vez que passa a ser legal) e o aborto clandestino continuará - porque a partir das 10 semanas continua a ser crime e porque muitas grávidas não se vão servir de uma unidade hospitalar para abortar, para não serem reconhecidas publicamente.
O governo com o referendo o que pretende é lavar um pouco as mãos e transferir para o povo a escolha de uma solução que não passa, em qualquer uma das duas opções, de efeito transitório e ineficaz.
Penso que o problema ficaria resolvido, quase a 90 %, se o governo, em vez de gastar milhões no SNS, adoptassem medidas de fundo, como estas:

1 – Eliminação da penalização em vigor (sem adopção do aborto livre) e, em substituição, introdução de medidas de dissuasão ao aborto e de incentivo à natalidade – apoio hospitalar (aconselhamentos e acompanhamento da gravidez) e incentivos financeiros. (Exemplo: 50 € - 60 € - 70€ - 80€ - 90€ - 100€ - 110€ - 120€ -130€, a receber no fim de cada um dos 9 meses de gravidez). O valor total a receber (810€) seria mais ou menos equivalente ao que o SNS prevê gastar para a execução de cada aborto. (*)

2 – Introdução de apoios a Instituições de Apoio à Grávida. Incentivos à criação de novas instituições.

3 – Introdução/incremento de políticas estruturadas de planeamento familiar e educação sexual.

4 – Aceleração do "Processo de Adopção".


(*) Se alguma mulher depois de receber estes incentivos, recorresse ao aborto clandestino, teria que devolver as importâncias entretanto recebidas (desincentivo ao aborto). [Não sei se seria conveniente estabelecer uma coima para a atitude unilateralmente tomada, quebrando o relacionamento amistoso (de confinaça e de ajuda) com a unidade de saúde].

Estou para ver se os políticos vão introduzir, a curto prazo, algumas deste tipo de medidas. É que o povo, mais do que nunca, vai estar atento à evolução desta problemática.
 
Escreve o Anonymous:

1º “O número de interrupções de gravidez, no mínimo, triplicará (uma vez que passa a ser legal)”.

Onde se apoia para fazer esse nexo?!... Conhecer-se-á o número de abortos ilegais?!... Que contas se faz para se poder dizer que triplicam e não duplicam ou desaparecem, p.ex.?!...

2º -“Eliminação da penalização em vigor (sem adopção do aborto livre)”

Como eliminar a penalização sem despenalizar?!...Mas por que se há-de insistir no associar a despenalização ao “aborto livre”?!... Será que as mulheres não dispõem, como nós, dum sentimento interior que apela aos deveres de consciência?!... Houve tempo que se pensava que as mulheres não eram dotadas como os homens, mas isso já está ultrapassado. Naturalmente, com polémicas e lutas semelhantes a esta!

3º - “medidas de dissuasão ao aborto e de incentivo à natalidade – apoio hospitalar (aconselhamentos e acompanhamento da gravidez) e incentivos financeiros. (Exemplo: 50 € - 60 € - 70€ - 80€ - 90€ - 100€ - 110€ - 120€ -130€, a receber no fim de cada um dos 9 meses de gravidez). O valor total a receber (810€) seria mais ou menos equivalente ao que o SNS prevê gastar para a execução de cada aborto”

Mas será que a mulher é apenas uma máquina de fazer filhos?!... Será que algum de nós gostaria de nascer sem ser desejado por uma mãe?!... Ser mãe é gerar um filho por amor. Há países onde o planeamento familiar só tem razões financeiras, mas suponho que esse não é o nosso modelo, nem o modelo das sociedades livres!...

Para terminar: o problema que é colocado no referendo é só um: saber se “Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?”

A questão é apenas a da despenalização. Não se pretende suprimir o crime depois das 10 semanas, mas incluir a interrupção voluntária da gravidez por opção da mulher nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado, no conjunto de modos de interrupção voluntária da gravidez já considerados no Código Penal.

No meu entender, o aborto clandestino resulta da penalização até às dez semanas. Essa forma “selvagem” de interrupção da gravidez é, por si, um problema de saúde pública.

O SIM harmoniza-se com as orientações da OMS e com o que é feito nos Países da Europa mais avançados.

É necessário libertar as mulheres do anátema, do ferrete e do cadastro quando recorrem ao aborto.

Depois, todos devemos investir nas tais questões do aconselhamento, dos estímulos à maternidade, da «Introdução de apoios a Instituições de Apoio à Grávida. Incentivos à criação de novas instituições. Introdução/incremento de políticas estruturadas de planeamento familiar e educação sexual, aceleração do "Processo de Adopção"», etc., etc.

Eu não acredito na superioridade moral de ninguém, mas acredito na formação das boas consciências. Por isso, penso que ninguém deve impor os deveres de consciência com um “braço penal”.

Por isso, voto SIM à despenalização.
 
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