sexta-feira, fevereiro 16, 2007

 

Abertura aos sinais do tempo

A nota pastoral dos bispos (sobre os resultados do referendo) deixa desarmado um fundamentalismo cristão (que só tem servido para fechar a Igreja num autismo próximo do “orgulhosamente-só”) e abre-se aos sinais do tempo em que vivemos.

Os bispos consideram que a «sua missão tem de ser, cada vez mais, pensada para um novo contexto da sociedade» e defendem «criatividade e ousadia» para o «esclarecimento das consciências».

Apostam na promoção de «estruturas de apoio eficaz» às mães e reclamam uma educação da sexualidade dos jovens.

Mas não bastam essas bandeiras: é também necessário pensar as questões sociais do trabalho precário, da mobilidade imposta aos trabalhadores e do desemprego; pensar, em suma, todos os factores que determinam as circunstâncias económicas, psicológicas e sociais duma maternidade responsável.

Como é público e notório, há muita gente, com muito poder económico e político, que se diz católica: é preciso que a Igreja lhes faça ver que ser católico não é desenvolver a retórica da metafísica dos costumes, mas levar à prática, nas empresas e na forma de governar, os princípios da solidariedade e da coesão social que estão presentes no “sermão da montanha”.

Comments:
A Revolta dos Bispos!?

Não!

Os resultados foram tão evidentes que obrigaram a Igreja a ceder!

A sociedade vai moldando essa instituição!

E ela não se importa, caso contrário, desaparece!

Por mim nunca havia de ter aparecido! Os males que infligiu, nunca poderão ser perdoados!
 
Não tenho esse ponto de vista.

Devemos à Igreja católica a dignificação do homem, ao considerá-lo filho de deus (e com isso acabou com a divisão entre dominadores e dominados, tornados estes na condição de um animal, um escravo ou uma coisa), devemos-lhe o modo de ver a vida, o homem e o mundo que configurou a nossa cultura.

Naturalmente, o césar-papismo e a ligação da igreja ao poder foram manchas negras, mas comparadas com tudo o resto, isso é muito pouco para termos sobre ela um juízo negativo.

Repare que é do próprio interior da Igreja que surgiu sempre a luta contra as próprias formas de césar-papismo na história da humanidade.

E foi na cultura cristã que se desenvolveram todas as ideias de emancipação social que temos hoje. Lembre-se do “direito das gentes” na idade Média e, inclusivamente, na formação cristã de filósofos como Marx.

Eu sou agnóstico, porque não sei se deus existe ou não ou se existe de uma forma diferente da que a Igreja revela. É uma questão de fé. Mas sob o ponto de vista cultural, penso como a maioria dos antropólogos, filósofos, historiadores e sociólogos que a raiz da nossa cultura, no melhor que ela tem, está nos evangelhos, nos filósofos e pregadores cristãos.

Aliás, não conheço nenhum filósofo que, de uma forma ou de outra, não tenha sido inflenciado por uma crença.

A necssidade duma religião está na frase conhecida "se deus não fosse venerado, a relação do homem com outros homens seria impossível"(homem lobo do outro homem- Hobbes).
 
Concordo, genericamente, consigo, Primo. E (pelo desculpa) mas fico chocado como é que alguém pode afirmar que a Igreja infligiu "males!"! Talvez por pregar o Bem, não?

Creio que, para um não crente (e para os crentes também), a sua análise sociológica e histórica está muito correcta: é evidente que a nossa cultura, no que tem de melhor, é tributária dos valores do Evangelho. Tenho pena de certos fundamentalismos; estes, aliás, redundam, as mais das vezes, em abismos como, v.g., a maçonaria...
 
Embora seja matéria sobre a qual não costumo pronunciar-me,por desconhecimento,nao concordo quando refere que devemos à Igreja católica a dignificação do Homem por me parecer um tanto reducionista esta posição.Acredito na evolução natural do homem e sempre que o homem foi "influenciado" pela Igreja ,foi pela força.Nos tempos modernos parece que a alternativa(a muito custo) é a Igreja ir-se adaptando às novas ideias sob pena de fenecer.Um abraço amigo do primo de Cinfães
 
Olhe que não! A história mais humana que conheço é a dos três primeiros séculos do cristianismo: foi uma luta nas catacumbas contra o poder arbitrário, a injustiça, a hipocrisia, o preconceito do dinheiro, na defesa dos mais pobres, dos humilhados e perseguidos. Mesmo nos períodos de mais enfeudamento ao poder, como foi o período da Idade Média, é dos cristãos que surge a reacção. Poderia dar-lhe imensos exemplos. Estudei isso no tempo de locke. Os infiéis são precisamente cristãos que assumem, em nome dos princípios do Evangelho, o dever de discordar com o pensamento dominante (ou correcto) da Igreja. Também os temos, hoje: Frei Bento, etc. E todos eles fizeram avançar as melhores ideias sobre o homem, o mundo e a vida.
 
Eu até gostava de concordar com a sua posição sobre a Igreja, mas quando me recordo do aprendi, sobre o que a Inquisição e o Index fizeram na velha Europa.
E a católica "metropole" incluindo os portugueses foram fazendo aos "novos" povos indigenas. Todos vivia-mos bem melhor, se não houvesse um Deus castigador e perdoador!
Para mim, um católico é basicamente, um ser humano, que faz algumas asneiras e reza dois padre nossos para ser perdoado, por uma entidade que nem conhece e a quem se pode confessar, mas sem coragem de assumir socialmente a sua responsabilidade.
 
Não quero que pense que o tento "converter". Mas a inquisição e o índex (a ela associado) são fenómenos da teocracia. Isso acontece, hoje, na Igreja muçulmana. Mas isso é a espuma. O que está no fundo, o que constitui, através dos tempos, a essência de uma religião não é isso. E tanto assim é que a inquisição perseguiu sobretudo os cristãos que não apoiavam a doutrina dominante e não os ateus. Perseguiu os infiéis: os que não eram fieis à doutrina que dominava. Mas foram estes (os infiéis) que continuaram o traço profundo que caracteriza a Igreja das catacumbas e dos evangelhos, e, inclusivamente, a eles se deve as mudanças de concepções da própria Igreja, o Vaticano II,a doutrina social da igreja, etc. Parece paradoxal, mas foi verdade. Por outro lado, não devemos esquecer os mártires que, em todos os tempos, existiram
na Igreja.

Diz o meu amigo: “um católico é basicamente, um ser humano, que faz algumas asneiras e reza dois padre nossos para ser perdoado, por uma entidade que nem conhece e a quem se pode confessar, mas sem coragem de assumir socialmente a sua responsabilidade”. Mas esse católico (que assim define) pelo menos “pede perdão”. Vejo para aí muita gente a meter a mão no bolso do seu semelhante e a concluir: «já cá canta”!». E põe-se na alheta. Ou então, a justificar o roubo com uma lábia que pretende que o roubado lhe fique grato.

O problema da má consciência não é apanágio dos católicos, nem dos agnósticos ou dos ateus. É um problema de educação, de raiz! As “coisas” faltando de raiz, muito dificilmente se adquirem com a religião ou com o agnosticismo ou o ateísmo.

No meu entender, o mais importante da Igreja é o que ficou a configurar o nosso paradigma judaico-cristão: ver o mundo como uma casa de nós todos e a nossa relação uns com os outros como uma relação de fraternidade, pois todos somos filhos de um mesmo deus, e com isso a obrigação de melhorarmos a vida nesta casa-comum, sendo mais fraternos uns para com os outros.
 
Primo de Amarante: (apenas digo ao que escreveu):Amén!
 
Obrigado, Cabral-Mendes. Os meus amigos, que não o conhecem, pelos seus escritos dizem que é muito fundamentalisTa. Eu costumo responder que é um crente generosissimo: gostava de ver toda a gente a ir para o CEU, mesmo aquela que para lá não quer ir!

Acha que tenho razão?!...
 
Política& mentira

O ex-inspector da ONU Hans Blix, que chefiou a missão enviada ao Iraque em busca de armas de destruição maciça, revelou que o primeiro-ministro inglês, Tony Blair, falsificou os seus relatórios para poder justificar a invasão. O truque de Blair foi grosseiramente simples transformou os pontos de interrogação do relatório, manifestando dúvidas de que Saddam tivesse armas de destruição maciça, em pontos de exclamação! Bush, o cristão, fez o mesmo: mentiu, falsificou, inventou provas. Se um comum cidadão americano ou inglês falsificar um documento (um cheque, um bilhete de comboio, uma simples entrada para um espectáculo) vai parar à cadeia (em Portugal a pena pode chegar a 3 ou a 5 anos). Blair e Bush (e os que os apoiaram na mentira, tanto editorialistas como políticos como Durão, Aznar e outros) continuam por aí de cabeça erguida, apesar de terem deliberadamente causado a morte de centenas de milhares de pessoas e metido os seus países num atoleiro de onde não sabem agora como sair. Diz Santo Agostinho que, sem valores morais, os reinos não se distinguem de bandos de ladrões. O desprezo dos cidadãos pelos políticos vem daí: da impune ausência de escrúpulos que se habituaram a ver, nas grandes como nas pequenas coisas, na actividade política.

As personalidades supra referidas e citadas por António Pina são todas muito católicas, Deus já lhes perduou, pela sua cruzada cristã no mundo muçulmano.

A vida é fácil para um católico!
 
Ser cristão, agnóstico ou ateu pertence ao registo das crenças e nada tem a ver com o registo do carácter. O carácter é independente de crenças, diz respeito à educação, à formação da personalidade. Tanto o cristão, como o muçulmano ou o ateu ou o agnóstico devem ser coerente e honestos. Pedir ao Cristão que seja mais honesto que um ateu, só diz mal do ateu. Parece que ao ateu ou ao agnóstico se podem desculpar as vigarices que não se desculpam a um cristão. Esse “privilégio” nem o Pina o daria, se discutisse com ele esta questão. Não se deve dar uma superioridade moral a ninguém, nem transformar a moral ou uma crença numa arma de arremesso.

Aliás, Blair e Bush podem dizer-se muito católicos, mas não será por eles serem católicos que a crença em deus se define. Nem pelo Papa, quanto mais por eles!!!...
 
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