sábado, janeiro 13, 2007

 

Os valores “pegam de estaca”

A propósito da IVG o tema dos valores tornou-se moda. Diz-se que a vida é um valor fundamental, mas dela se desdenha nas situações de pobreza, de abandono de crianças, de pena de morte, de racismo e de xenofobia.

D. António Ferreira Gomes disse, um dia, que era melhor evitar os filhos que abandoná-los na rua e vê-los todos rotos, a pedir esmola. Isto foi recentemente referido por um médico católico e professor universitário, Albino Aroso Ramos, antigo Secretário de Estado da Administração de Saúde, que diz SIM à descriminalização da IVG.

É significativo que a assertividade em relação ao valor da vida não tenha consequências na defesa de políticas de vida, como o combate ao desemprego, à falta de habitação, de cuidados de saúde, de educação, etc. No entanto, para os católicos tão preocupados com a não despenalização da IVG, Jesus, no Novo testamento diz: «Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância». O que significará «vida em abundância», se não pensarmos nas condições económicas, sociais e culturais do viver?!...

Muitos pensam que é à escola que compete a tarefa de definir as estratégias de uma educação para os valores. Mas o sistema de ensino é, hoje, um reflexo da crise geral em que vivemos. Se fossem precisos exemplos desta situação, bastaria referir a leviandade com que foi integrado um excerto do regulamento do Big Brother num dos manuais da disciplina de Português e lembrar que esse manual, com um tal exemplo “educativo”, foi dos mais escolhidos no ensino secundário.

O império do interesse económico sobrepôs-se a tudo o que constituía âncoras de busca de um sentido para a vida e para o mundo. É neste contexto, que também foi esvaziado o valor do trabalho e o papel das organizações sindicais. O novo código do trabalho, desvalorizando as organizações dos trabalhadores, facilitando o desemprego e promovendo a mobilização e o trabalho precário, criou, sobretudo nos jovens candidatos ao primeiro emprego, um sentimento de insegurança relativamente ao futuro.

Uma direita que se diz católica apostólica romana e que, retoricamente, tantas laudes faz à instituição da família (em abstracto), despreza as circunstâncias que promovem a constituição duma família e a tornam numa sociedade de afectos.

Os esteios fundamentais da organização dos valores da solidariedade, da generosidade e do sentido da vida estão desvalorizados. Faltam as estacas de apoio ao desenvolvimento dos valores.

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