terça-feira, janeiro 09, 2007

 

Estar solidário com as mulheres pobres

Dia 11 de Fevereiro, os portugueses são chamados a pronunciar-se, pela segunda vez, em referendo, sobre a descriminalização da interrupção voluntária da gravidez.

Não está em causa ser ou não a favor do aborto, mas está em causa uma lei que mete na cadeia as mulheres que interrompem a sua gravidez. E é esta a questão que claramente deveria ser debatida pelos movimentos que fazem campanha neste referendo.

Mas a confusão entre o plano da cidadania e o plano da consciência moral já está a generalizar-se por uma retórica que mete no mesmo saco questões económicas, concepções filosóficas de vida, desertificação do in
terior, etc., etc.. E receio que a abundância de políticos que aproveitam o referendo para se mostrarem na televisão seja um factor de desmobilização da maioria dos portugueses.

O autismo dos partidos não os deixa perceber que, numa altura em que o povo dá sobejas provas de estar divorciado dos políticos, a causa da despenalização ganhava mais com a ausência destes nas campanhas pelo sim do que com a sua presença.

Receio que o povo, estando zangado com os políticos, não apareça nas urnas de voto; e, em vez de um SIM massivo pela descriminalização do aborto (como seria natural), surja uma enorme abstenção que deixará tudo na mesma, penalizando as mulheres pobres.

Não tenhamos dúvidas: abortar é um drama para todas as mulheres e a descriminalização visa, sobretudo, resolver o problema das mulheres pobres; as outras têm quem lhes indica, no país ou no estrangeiro, clínicas onde possam interromper a sua gravidez com segurança e á margem da lei. A
lgumas destas mulheres até podem "dar-se ao luxo", para consumo das "boas" consciência, de serem vitalmente asserivas no não.

Comments:
E o Aborto Musical? Um embrião musical só é considerado música a partir de quantos compassos? e os contraceptivos musicais e as doenças musicalmente trasmissiveis?
 
O que mais me revolta é, por um lado, a instrumentalização oportunista dos políticos, e, por outro, a hipocrisia de muita "santa" gente.
Todos sabemos que o aborto continuará a ser feito: ele manifesta o drama da gradidez indesejada.
 
Caro amig: Já fui ao seu blog. Aqui deixo a direcção: http://anacruses.blogspot.com/

Espero que os meus amigos o visitem, pois vale a pena acompanhar o debate que lá foi feito sobre o Aborto Musical e, muito particularmente o que dizem os defensores do SIM e os do NAO.
De facto, há muita "musica" nesta questão.
 
Hoje li no "Púbico" que os "independentes pelo Não" defendem a a manutenção da lei com o argumento de que a lei é para afirmar valores. Mas, o valor de diminuir o sofrimento aos que mais sofrem não deve ser protegido?!...E não será esse valor o que dá sentido a uma boa governação?!...
 
Pois é, neste referendo não está em causa ser ou não a favor do aborto o que está em causa é a sua descriminalização. Todavia, ouvindo e lendo as notícias, os comentários, as perguntas e as reflexões dos defensores do Não de facto, invariavelmente,encontramos a questão “ a favor ou contra o aborto”. Ora, como as pessoas minimamente esclarecidas sabem que não é essa a questão, a explicação que encontro é que essa formulação serve, não para esclarecer sobre as implicações reais dos problemas, mas sim para induzir medos e culpabilização. Esta questão é tão delicada, tão importante, que mereceria um tratamento mais digno.
Sou a favor da descriminalização e tenho alguma dificuldade em entender as mulheres que não o são.
 
E eu também tenho dificuldade em entender os homens que são contra a descriminalização e há individuos tão hipócritas. Por vezes apetece-me contar algumas histórias.
Um abraço
 
Diz o Primo: «Hoje li no "Púbico" que os "independentes pelo Não" defendem a a manutenção da lei com o argumento de que a lei é para afirmar valores. Mas, o valor de diminuir o sofrimento aos que mais sofrem não deve ser protegido?!...E não será esse valor o que dá sentido a uma boa governação?!...»
Por momentos, sou levada a pensar que o que está em causa é essencialmente um conflito de valores, de bens. De um lado, o valor vida, bem inviolável na opinião dos que defendem o Não, e, do outro, um conjunto de valores individuais mais ou menos complexos e subjectivos.
Eu não vejo a questão deste prisma. Sou a favor do SIM e, no dia 11 de Fevereiro, irei votar nesse sentido. Independentemente das razões da ciência médica atestarem a existência de vida desde a fecundação (penso que é isso que é dito), para mim a questão coloca-se ao nível de manter ou não a penalização de quem pratica a interrupção voluntária da gravidez.
O que se pretende (é assim que eu entendo o debate e a finalidade da alteração proposta) não é fomentar o aborto porque essa é uma questão de consciência. Fá-lo quem em determinado momento e perante algumas circunstâncias (que eu creio serem especialíssimas e, regra geral, dolorosas) sente e decide que não tem outra solução ou alternativa face ao quadro fáctico que a rodeia. E mesmo que nós outros, terceiros e alheios à situação concreta, tenhamos a ideia de que a mulher que abortou laborou em erro, falhou na apreciação das circunstâncias que determinam a sua decisão não podemos, defendo eu e por isso voto sim, impor-lhe uma condenação. Eu não me sinto bem a condenar uma mulher que praticou a interrupção da gravidez. É disto que se trata.
E como bem diz o Amigo Primo, trata-se de estar solidário com as mulheres pobres porque são, sobretudo, estas que recorrendo à interrupção voluntária da gravidez o não fazem por qualquer capricho social mas por causas de necessidade justificantes do acto. Obviamente que se são as mais pobres são também, presumidamente, as que menos hipóteses têm de recorrer a ajuda médica adequada, nomeadamente a de encontrarem uma clinica ou médico disponível para lhes atestar o estado clínico hábil a estar a coberto do actual quadro normativo em vigor.
Deste modo, urge mudar a lei. Não fazê-lo é fechar os olhos às consequências nefastas que dai resultam para quem se sente na contingência de interromper a gravidez, e sobejamente conhecidas de todos nós, é manifestar inflexibilidade ás evoluções sociais e mentais dos nossos tempos e é, sobretudo, pactuar com a hipocrisias de alguns.

Por último, se há pessoas que têm dificuldade em compreender que existam mulheres e homens a votar Não, dificuladde que também subscrevo, eu acrescento que tenho ainda maior dificuldade em entender ou conceber (por não encontrar razões plausíveis) que alguns digam que são a favor do SIM mas não vão votar. De facto não compreendo após a decisão mais difícil - reflectir e concluir que são a favor do Sim - optem depois por não participar numa questão que é tão deliciada e de vital importância para as mulheres em particular e para a sociedade em geral se não olvidarmos o que acontece aos filhos indesejados.
ln
 
Estou de acordo consigo.
Um abraço
 
Deixe-me dar-lhe os parabéns pela excelente argumentação que expressou no anónimo a respeito deste assunto. Gostei muito e louvo-lhe o vigor e empenho que ainda consegue suster sobre o tema.
ln
 
Obrigado, carissima amiga.
 
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