segunda-feira, janeiro 22, 2007

 

"As pregas do véu de ombros"

Fui, com o nosso amigo Ferreira (ilustre causídico de Cortegaça), à apresentação do livro “As pregas do véu de ombros” de Jorge Cunha, professor catedrático de Teologia Moral da Universidade Católica, editado por "Letras & Coisas".

“Letras & Coisas” é uma daquelas editoras que sobrevive com a colocação dos seus livros em livrarias de amigos. Não tem distribuidora e, por isso, a obra terá uma expansão muito reduzida.


E é pena!

Como referiu um dos seus apresentadores, Prof. Dr. Arnaldo Pinho, decano da Sé do Porto e um dos secretários de D. António Ferreira Gomes, trata-se de um romance ético que narra «os encontros, os logros, as revoltas e os caminhos daquele que foi o destino de D. António Ferreira Gomes. Destino intelectual e moral pouco comum, na Igreja e na sociedade portuguesa, semelhante a um Newman na Inglaterra do séc. XIX, ou a um Tomás More em tempos de Henrique VIII, ou ainda a quantos, em séculos anteriores, foram sujeitos a suspeitas, perseguições e falácias de nós bem conhecidas, desde Inácio de Loyola a S. João da Cruz e tantos outros…».

E acrescenta: “De facto, a condição de D. António Ferreira Gomes foi, permanentemente, um dilema exterior e interior entre poder e a consciência, entre ser e não ser, como diria Hamlet…».

Jorge Cunha coloca nas figuras que criou todo o enredo que constitui a trama histórica vivida por D. António. Com tal enredo, o romance consegue ilustrar a máxima, segundo a qual “a moral tem o seu padrão numa espécie de instinto da liberdade e do bem, antes de ser a conformidade com um padrão socialmente instituído.”

E é neste sentido que “As pregas do véu de ombros” se torna num romance ético, bem necessário para os tempos que decorrem.

Quem quiser conhecer mais de perto a luta de D. António Ferreira Gomes pelo reconhecimento dos direitos da consciência, terá de pedir o livro (que na capa tem um desenho do escultor José Rodrigues) a “Letras & Coisas”, Rua Pedras de Novais,253,h45, codex: 4450-767 Leça da Palmeira.


Infelizmente, a obra não estará nos escaparates dos hipermercados ou das FNACS.

Comments:
Caro Primo fez-me corar de vergonha.Ilustre? Quem ? Olhe, ainda só li o 1º capítulo.Estou a gostar. Maugrado aqueles erros que já tinha destacado.
Um abraço
 
De facto, é um romance ético. Já reparou que atravessa todos os diálogos o problema dos direitos da consciência?! O que leva D. António a defender a demoracia é, precisamente, a convicção de é este é o único regime que salvaguarda estes direitos e é também essa preocupação que percorre a sua carta a Salazar.

O seu pensamento humanista está, hoje, tão abandonada pela própria Igreja. Aliás, não nos podemos esquecer que a maioria ds bispos portugueses não queriam que D. António regressasse a Portugal. Eles estiveram sempre com o pensamento dominante ou com o pensamento correcto (que nunca brota da consciência)
 
Quanto aos erros, que não são propriamente erros, isso deve-se à poupança de custos das pequenas editoras. Estas entregam a revisão das provas ao autor e este lê sempre o que está no seu pensamento e não das provas que tem á sua frente.

Penso que haverá uma distribuidora (e estou a fazer tudo para isso)que acabará por descobrir que vale a pena responsabilizar-se pela colocação deste romance não só em livrarias, mas também nas FNACS e hipermercados e com isso haverá uma revisão de provas por alguém que esteja distanciado de quem escreveu o livro. Mas não pensem que isso é fácil: as distribuidoras tem contratos com grandes editoras que as inibem de alargar a distribuição a pequenas editoras.
 
Acontece-me o mesmo. Tenho amigos scerdotes que penso estarem com a Igreja de Cristo. Com eles, desde há muitos anos, temos encontros de repasto. Um deles foi meu professor. Têm uma linguagem diferente dos que pertecem à Igreja de Constantino.

Temos muito em comum, amigo Hóspede. Não deixe de ler o livro de Jorge Cunha.
 
Primo, lembra-se de um Tio meu de que lhe falei? Ele foi a Salamanca, integrado num grupo, ver e falar com o D. António...
 
Eu lembro-me de ouvir falar nessa viagem. Foi feita de forma clandestina, com mêdo, essencialmente, que soubesse o cardeal Cerejeira ou o D. Florentino. Aliás, penso que o livro tem uma referência a esse facto.
 
Meus amigos, digo apenas que Igreja há só uma. Essa visão de duas "Igrejas", uma dos "poderosos" e outra de "de Cristo" não é correcta e não colhe.

Mas é natural que a Igreja portuguesa tenha estado (falemos claro) com o Estado Novo, que defendia um Portugal Cristão, muito nos antípodas da 1ª República que destruiu Igrejas, Conventos, exilou frades e freiras, perseguiu e meteu na cadeia inúmeros portugueses, apenas pelo crime de serem crentes. Assim, não admira que a Igreja, repito, apoiasse o Estado Novo.

É preciso revisitar a História para compreendermos a actuação, não só das Instituições, mas também dos homens...
 
"É preciso revisitar a História para compreendermos a actuação, não só das Instituições, mas também dos homens..." Estou de acordo.

Ora vejamos:

Quando uma Igreja, ou melhor, os seus mais importantes representantes pregam a sujeição a um poder que explora e oprime, aos olhos dos explorados e oprimidos essa Igreja está ao serviço de quem?

E o que é um Portugal Cristão? Será que a teocracia se justifica?

A luta dos primeiros republicanos visou uma religião que combatia a república porque ela suportava o poder contrário; e isso acontecerá sempre que houver uma imagem teocrática do poder.

Naturalmente, há um outro modo de ver. O que vem na tradição do Cristo que sofreu perseguições e foi condenado a morrer na cruz por não estar na linha dos poderosos.

Esta Igreja dá César o que é de César e a Deus o que é de Deus, e, por isso, não se identifica com a outra (naturalmente, no sentido da sua imagem pública). A Igreja das catacumbas também nunca foi identificada com a Igreja do Império, que Constantino instituiu como religião oficial.

Porque há duas imagens de uma só Igreja, se quiser, D. António Ferreira Gomes representa uma Igreja diferente daquela que é representada pelo Cardeal Cerejeira,

Lefebre também representou uma Igreja diferente da que representou o bispo polaco que se tornou no papa João XXIII.

O cardeal Cerejeira foi a imagem do Portugal Cristão de Salazar; D. António foi a imagem do Portugal que sofria fome, miséria, emigrava e era encarcerado no Tarrafal e em muitas outras prisões. As consequências são claras: o Portugal Cristão fazia intriga junto da Santa Sé para que o Portugal dos que sofrem não tivesse voz.

Uma Igreja estava mais próxima do que diz o “Pai-nosso”; a outra do que fazia a inquisição. Uma representava o Portugal fascista; a outra, o Portugal democrático.

Tal como hoje, aos olhos dos cidadãos houve sempre duas Igrejas: uma que está com os poderosos e outra que está com os que não têm poder. O padre Pierre da comunidade emaús não dá da Igreja a mesma imagem que dela dá o Cónego Melo da Sé de Braga.

Portugal medieval tem uma Igreja oficial; Portugal moderno é laico para ser de todos os portugueses, cristãos, ateus, muçulmanos ou outra coisa qualquer. Eu e o meu amigo temos lugar num Portugal moderno, mas num Portugal Cristão só meu amigo tem lugar, como mais português do que eu. Não quer que me revolte contra um Portugal que me exclui?!...

Não vale a pena taparmos o sol com uma peneira.
 
Primo, não fico feliz se foi excluído, pese embora o facto de, ao rejeitarmos um certo regime, político-social, qualquer que ele seja, ao não nos revermos nos valores que predominam numa sociedade, automaticamente estamos a excluirmo-nos dela…é inevitável…

Contudo, reconheço que o Cardeal Cerejeira e D. António representam duas visões diferentes, não só da sociedade, mas da vivência da própria Fé…

Relativamente à 1ª República, ela “não tinha necessidade”, não fora a sua ideologia ateia e fortemente anti-religiosa, de afrontar a Igreja Católica. Mas o meu amigo sabe, muito melhor do que eu, as raízes de tal pensamento… os erros do iluminismo, do positivismo, do cientismo que procurou erradicar, numa geração, e no dizer de Afonso Costa, todo o sentimento religioso do povo português…e, mais tarde, viu-se no que deu esse “fervor” anti-religioso…

Um abraço! (mesmo discordando, por vezes, é sempre um prazer lê-lo...).
 
Sabe como estava aliada à monarquia a Igreja e isso foi um mal que teve consequências terríveis. Por isso, temos de lutar para que se evitem os erros do passado.

Por isso, eu não quero um Portugal Cristão, como não quero Reis Católicos empenhados na inquisição Quero que Portugal seja de todos e gostaria que tivesse cristãos virtuosos, virtuosos agnósticos, etc., e que todos fossem honrados cidadãos.
 
Sim, honrados! Sem interesses obscuros...subterrâneos...
 
Concordará comigo que não se deve lançar o labéu de estar com "interesses obscuros...subterrâneos.." a quem não é cristão ou a quem entende que a religião deveria ter outra postura perante o poder!...
 
Aseante disse...

às vezes é preciso ter paciencia perante algumas provocaões do Sr. Cabral- ´Mendes....No entanto este forum ficará mais rico com essas intervenções.
 
Peço desculpa, mas se há coisa que não sou é provocador. Os comentários que cada um faz decorrem do respectivo pensamento, sentimentos, ideologia, de uma certa visão do mundo e da sociedade. Se porventura vivemos em democracia, somos todos livres de expressarmos as nossas convicções, não é verdade? Então, não percebo o espanto...Aliás, tenho a honra de conheçer pessoalmente o Autor deste blog e ele sabe que o admiro, pela sua vastíssima cultura, e por ser um verdadeiro humanista. As diferenças de opinião não interessam às pessoas de bem...
 
Obrigado, camarada e amigo Cabral-Mendes. O "camarada" aqui tem a ver com a raiz grega da palavra e significa "comer á mesma mesa". Nada tem de provocação!

O camarada "aseante" é um jovem causídico de convicções, luta por elas e ainda tem a vantagem de não ser um agnóstico como eu. Pena é que não venha aqui mais vezes. Eu ainda tenho esperança de o pôr a falar com o meu amigo "Cabral-Mendes". Tem, tal como eu, o defeito de ser republicado, mas isso é incorrigível.

Penso que o camarada “aseante” só quereria (com o seu conceito de provocador) insurgir-se contra a tendência, que por vezes aparece, de ver “inimigos internos” em todas as correntes menos ortodoxas que se ligam à Igreja Católica. O “aseante” é um ecuménico. Tem por isso dificuldade em entender o conceito de Igreja “orgulhosamente só”. E pensa que a “verdade” tem muitas leituras e ninguém pode açambarcá-la para a reduzir apenas à leitura dos seus credos.

Vamos ultrapassar este pequeno conflito de interpretações, embora ele seja próprio do jogo democrático, como se costuma dizer. E viva a REPÚBLICA

Às vezes penso que unia-nos mais uma república monárquica: isto é, em vez de termos um presidente escolhido por todos os portugueses ou um rei de transmissão genética, termos um método republicano para a escolha de um monarca. Como isso não deveria expressar a vontade dos plebeus, podia sair-nos no Joker. Quem tivesse o úmero de contribuinte a coincidir com o Joker passava a rei: era uma espécie de Jackpot monárquico. E eu, como não tenho sorte no jogo, talvez tivesse aqui a minha lotaria. Muito gostava de andar de cartola e libré. E, já, agora, para a minha vetusta idade, ficava-me bem uma bengalinha com suporte em prata.

Um abraço para os dois
 
Obrigado pelas suas palavras, Primo. Um abraço também para si.

(Em tempo: mas olhe que a Monarquia tem um perfume de poesia...

("prontos", mais uma "provocação"...ahahah...).
 
Perfume francês!!!
 
de preferência, Chanel...pour homme et pour femme....
 
Ora, isso mesmo!

Caro Amigo Cabral-Mendes: lembrei-me, agora, que o Castello-Branco (aquele sujeito muito híbrido que aparece na TV!) farta-se de falar nesse perfume. Isso já é um pequeno senão, que torna o uso do mesmo desconfortável!...

Não é por nada, mas ouço dizer que o "tipo" nem sequer é de baptismo Castello-Branco: é uma espécie de monárquico atravessado. (Será o termo apropriado?!..)
A propósito,

Diz-se que, a partir de D. Manuel II, há dois tipos de monárquicos. Nessa altura, iniciava-se a moda da certificação científica. E todos os monárquicos não queriam ficar à margem da certificação monárquica. D. Manuel resolveu, então, dar do seu sangue uma gota a todos os que provassem ser genuinamente descendentes da realeza. Foram tantos e tantos a exigirem a gota da certificação que D. Manuel ficou muito enfraquecido a ponto de, em vez da anemia, inexplicavelmente acordar com uma diarreia amarelada enorme. O médico incumbido de administrar a gota da certificação deparou, nessa manhã, com uma longuíssima fila a exigir certificação monárquica. As suas explicações que resultavam do estado de espírito do Rei caíram mal e ele não teve outra hipótese: foi ao bacio diarreiral (nessa altura, como sabe, em cada quarto, mesmo de um monarca, havia o chamado vaso de noite que para o vulgo era bacio ou penico) e sugou o seu conteúdo para a seringa. Resultou daí dois tipos de monárquicos: os de sangue e os de mer... Ou, melhor dito, os azuis e os amarelos.

O dito Castello-Branco parece que pertence á segunda fornada.
 
Bolas Compradre! Que sendo assim não podemos usar Chanel!...

Mas as coisas que Vexa sabe!
 
É o resultado de muita pesquisa.
 
Desculpem meter-me na conversa!! Não páro de rir. A explicação acerca da tipologia monárquica está fantástica. Agora percebi, finalmente, a existência dos dois tipos!!! :-) :-)
 
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