quarta-feira, novembro 15, 2006

 

A questão da interrupção voluntária da gravidez

O Tribunal Constitucional aprovou, hoje, a proposta de referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez apresentada pelo PS e aprovada na Assembleia da República.

A pergunta prevista para o referendo será: «Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?»

O Presidente da República, Cavaco Silva, tem agora 20 dias para decidir convocar ou não a consulta.

Ainda não se sabe qual será a decisão do Presidente da República, nem a opinião dos portugueses e já o arcebispo de Braga vem negar ao «poder constituído» (isto é ao Estado) o poder de despenalizar o aborto.

Aceita-se que a Igreja Católica tenha a sua própria interpretação da vida humana, que adopte como certo a concepção bíblica do homem ser feito à imagem e semelhança de Deus. Percebe-se que tire daí a conclusão de existir, no momento da fecundação, um ser humano completo, com alma humana e corpo humano.

Mas, a própria Igreja já vai reconhecendo que a Bíblia usa uma linguagem metafórica que não deve ser interpretada literalmente.


E esse reconhecimento ajuda-nos a compreender, de certo modo, o erro da Igreja em ter condenado Galileu, em confundir durante muitos séculos as leis naturais com o domínio da fé, a ordem natural da vida com o seu sistema de crenças, os direitos de consciência com a legalidade civil, o altar com o trono.

Não se percebe, por isso, que tantos séculos após a condenação de Galileu, a Igreja persista em transformar as decisões políticas numa questão religiosa.

Estou em crer que se passa com a actual concepção de vida defendida pela Igreja Católica o que já se passou com a concepção do mundo defendida no tempo de Galileu.

Esperamos o dia em que a Igreja aceite que só com a formação do sistema nervoso central se pode falar, sob o ponto de vista ontológico, em vida humana.

Entretanto, é necessário que a Igreja Católica compreenda que há uma distinção de fins entre sociedade civil e sociedade religiosa: os fins da sociedade civil são os interesses civis; os fins da sociedade religiosa são a salvação da alma. E é no apelo à consciência e não ao Estado que é possível a salvação da alma.


A despenalização da interrupção da gravidez é uma questão civil; a interrupção da gravidez é uma questão de consciência.

Comments:
Subscrevo integralmente.
ln
 
O que mais me custa é a hipocrisia e a intolerância que estão sempre ligadas a esta questão.
 
A hipocrisia e a intolerância são sentimentos sempre mesquinhos e inaceitavéis sejam quais forem as matérias ou questões.
ln
 
Sim, mas tratando-se de um problema que, quase sempre, é um drama para a mulher, muito pior!
 
Aproveitando que realça a questão como sendo um drama para a mulher, pergunto-lhe: concorda que a decisão pertença exclusivamente à mulher no caso do pai não querer a interrupção da gravidez?
ln
 
Nessas coisas, o bom-senso deve funcionar. Para mim, o pirincípio a respeitar é: um filho deve nascer por desejo e para ser amado.Só assim pode ter condições para ser feliz e a felicidade deveria ser o fim último do ser humano.
 
Registei que não respondeu à pergunta!
Descreve um quadro idealista, distante da realidade e das circuntâncias que justificam que a mulher recorra à interrupção.
ln
 
Eu tinha ideia ds ter resondido a este post.Estarei enganada? É possível que o tenha feito noutro blogue.Um abraço.
 
Amiga Amélia: não sei!. Eu tenho outro post, mais abaixo, sobre o mesmo tema.

Amiga "in": penso que respondi. Isto não pode ser a preto e branco. À mulher caberá naturalmente a primeira deecisão, porque não é propriamente uma mera "barriga de aluguer".
 
O primo prefere tratar-me por "in" e eu não me importo, até já me habituei. No entanto, há dias em que sou mais "out" do que "in", como é o caso de hoje. :-)
Por isso, saí por aí a comentar a torto e a direito, sobretudo aqui na margem esquerda!!! Desculpe, tenho a sensação que me excedi.
Contudo, quanto a esta questão ainda quero, em jeito de atalho de foice, acrescentar o seguinte: eu concordo e defendo que "um filho deve nascer por desejo e para ser amado. Só assim pode ter condições para ser feliz e a felicidade deveria ser o fim último do ser humano." Acontece que inexiste o problema da decisão de interromper ou não a gravidez. Se estamos perante uma situação em que a gravidez foi planeada e desejada, ou não o tendo sido é bem recebida, não há intenção de abortar. A questão complica-se quando um dos pais não quer o filho e o outro quer: Quem deve decidir? em que circuntsâncias se justifca uma decisão e até quando é ligítima (seja em termos legais seja em termos de conciência)?
Eu defendo que a decisão caberá, em última instância à mulher, não tenho opinião formada quanto ao tempo dentro do qual deve ou pode abortar e sou bastante flexível na aceitação das circuntâncias que possam justificar uma interrupção.
Sabe, parte-se-me o coração ver crianças abandonadas, desprotegidas, sem eira nem beira, à mercê de pessoas sem escrúpulos, etc, etc. A opinião pode chocar alguns, mas não consigo convencer-me do contrário, e doí-me muito menos saber que A ou B abortou do que vê-los depois de lar em lar, centros de acolhimento, de familia de acolhimento em família de acolhimento, sem qualquer desmérito para quem trabalha nestes lugares e desempenha um bom trabalho.
ln
 
Estou de acordo consigo (menos na consideração do excedimento). Conheço bem o caso de crianças abandonadas. Faço parte dos corpos gerentes de uma instituição de acolhimento. Também me mete impressão, saber que há quem militantemente seja pelo NÃO e seja indiferente ao problema das crianças da rua.OU tenha dito, como é o caso de alguém que conheço, que não tem tempo para estar com o filho (o qual pouco tempo depois entrou na droga). Como professor falei com muitos pais e conheço bem o problema de crianças abandonadas. Também há a situação de quem em Portugal milite pelo NÂO e em Espanha faça abortos. Há muita hipocrisia em questões de consciência ou má consciência.
 
Caríssimo amigo, eu conheço casos em que os pais estiveram atentos presentes, eventualmnte não souberam educar por inabilidade, e tem filhos na droga.
Ou seja, os pais de hoje deparam-se com problemas e dificuldades diferentes das existentes há 10, 20 ou 30 anos atrás.
Educar é uma tarefa difícil e se o contexto social, económico e familiar estiver em ruptura ou for precário como quer que a tarefa de educar filhos tenha êxito?
Devemos pedir a um pai que saia do trabalho às 16h para ir buscar o filho à escola e levá-lo à natação ou ficar com ele em casa às 2ª, 4ª e 6ª porque a mãe não pode, e vice versa no caso da mãe, ou devemos aconselhar este pai a ficar no seu local de trabalho porque o horário dele termina apaenas às 18h, quando está com sorte?
Tratemos primeiramente das causas que levam as famílias a "atirar" com os filhos para as escolas durante todo o dia...
Serão poucos os pais que deixam de disfrutar do prazer de estar com os filhos qaundo o podem fazer.
ln
 
Em termos gerais, assim é.
 
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