sábado, novembro 25, 2006

 

POEMA PARA O NATAL

















Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados,
Para chorar e fazer chorar,
Para enterrar os nossos mortos -
Por isso temos braços longos para os adeuses,
Mãos para colher o que foi dado,
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida;
Uma tarde sempre a esquecer,
Uma estrêla a se apagar na treva,
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar,
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer:
Uma canção sôbre um berço,
Um verso, talvez, de amor,
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E que por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre,
Para a participação da poesia,
Para ver a face da morte -
De repente, nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte apenas
Nascemos, imensamente.

Vinicius de Moraes

Comments:
Mais logo deixo-lhe aqui uma poema de Natal "em condições". Mais alegre, mais adequado à festividade que se celebra com o Natal: a família.
O que deixou é muito triste.
ln
 
Obrigado. Assim é que o blog é interactivo. Passa-lo-ei a post.
 
A post?
Que responsabilidade!! Acho que desisto aqui.
ln
 
Que responsabilidade?!...

Então tudo na vida não é feito com responsabilidade? É só mais uma coizinha!
 
Tem toda a razão. Por isso, deixo-lhe o Dia de Natal de António Gedeão.Conhece? Foi nele que pensei, desde o início.
Eu gosto imenso deste, é, no entanto, muito extenso para post. Se levar por diante essa intenção de trasnformá-lo em post corte-lhe, sugiro eu, algumas partes. De outro modo, não ficará bem.


Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
É dia de pensar nos outros. coitadinhos. nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.
Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.
De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)
Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.
Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.
Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.
A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra. louvado seja o Senhor!. o que nunca tinha pensado comprado.
Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.
Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.
Ah!!!!!!!!!!
Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.
Jesus
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.
Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.
Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.

ln
 
Olhe, esqueça essa ideia do post e
sugiro-lhe, antes, o seguinte: qualquer dia arranjo um tempinho e escrevo um texto para a margem esquerda que lhe envio e o primo fará, se lhe agradar, o favor de publicar. Pode ser?
ln
 
rkkbmEstá combinado. O blog não é para me agradar! Brevemente falarei com os outros subscritores para abrir espaço à colaboração.
 
Nada disso, Caro primo. Por favor, não me interprete mal, mas eu não pedi para ser colaboradora do seu blog. Sugeri apenas, e excepcionalmente, o envio dum texto cujo mérito ou oportunidade de publicação deixaria ao seu critério e apreciação. Foi só isso.
De qualquer modo, muito obrigada pela sua pronta aceitação na minha "presumida" colaboração.
(mas não saberia estar à altura dos textos que aqui se publicam)
ln
 
Caríssimo, um bom dia.
Vá lá, diga-me que leu e entendeu o meu último comentário. Não deixe que eu sinta que fui indelicada consigo, porque, efectivamente, não tive essa intenção, nem pretendi praticar qualquer acto demeritório.
ln
 
Só agora reparei no seu comentário.

Percebi, respeito e para o meu modo de ser a modéstia em exagero ou o receio de ser indelicada não faz sentido.

O que é importante é que o dialogo brote naturalmente, sem receios, nem "autoflagelamentos".

Um abraço
 
"modéstia em exagero" e "autoflagelamentos"?
É um recado para mim? Soa-me a raspanete!! Não desgostei.
Ok, agora estava literalmente a brincar consigo.

Agora a sério, registei para memória futura isto: "...para o meu modo de ser a modéstia em exagero ou o receio de ser indelicada não faz sentido."
e isto: "O que é importante é que o dialogo brote naturalmente, sem receios, nem "autoflagelamentos"."
Quer-me parecer que, a não me esquecer daquele recado, ainda vamos ter por aqui diálogos bem acessos.
(Se, e quando, eu for contundente avise-me.) :-)
ln
 
Contundente! isso é que é preciso.
 
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