segunda-feira, outubro 30, 2006

 

Uma reflexão sobre a ética aplicada.

O conceito “Ética Aplicada” surgiu nos anos 60 do séc. XX, por analogia com outras disciplinas, como a física aplicada, a sociologia aplicada, etc. e pretendeu, sobretudo, dar uma resposta às incertezas relativamente ao futuro das próximas gerações humanas provocadas pelo desenvolvimento tecnocientífico.

Os desastres ecológicos, a manipulação genética, a energia nuclear, etc., criaram preocupações relativamente à perversão das características únicas e essenciais do homem e relativamente aos efeitos remotos, cumulativos e irreversíveis da intervenção tecnológica sobre a natureza.

Além disso, depois da queda do muro de Berlim (1989), acelera-se o fenómeno da globalização, com os novos problemas económicos, políticos, sociais e culturais. Mudou a natureza do capital: apareceram os fluxos financeiros internacionais, com as multinacionais. Mudou a natureza do trabalho-- antes, os factores de produção eram três: o Trabalho, o Capital e a Terra; --hoje, a produção tornou-se mais intensiva no conhecimento. O saber constitui um factor de diferenciação no trabalho. O que vale é o trabalho qualificado e criativo. Mudou o papel do Estado. Com a globalização, o Estado tem de saber conciliar o nacional e o internacional e criar condições estruturais de competitividade em escala global.

A moral tradicional (normativa), fundada na consciência individual, revela-se totalmente incapaz de responder aos problemas de um novo mundo e de uma nova sociedade. É preciso uma moral que parta dum conceito de responsabilidade solidária.

Vivemos num “novo mundo”: a aldeia global

Nesta aldeia global o que mais conta é a informação e conhecimento.

Vivemos numa “nova sociedade”: a sociedade do conhecimento”

O conhecimento exige capacidade de organizar a informação. E isso exige capacidade de dar á informação um valor, traçar-lhe um sentido e uma finalidade.

É preciso uma ética que, sem abandonar as convicções, seja capaz de responder às seguintes questões: Para que serve a informação? Qual o sentido de tanta informação? Como poderemos utilizar a informação? Quais são os nossos deveres para com as novas gerações?

O paradigma ético tradicional baseava-se numa concepção do mundo que dominou a cultura tradicional. As ciências da vida (homem, animal, vegetal e, até, mineral) tiveram um progresso vertiginoso sem terem em conta as ciências do homem (antropologia, sociologia, filosofia). Este progresso transformou-se numa perigosa ameaça à própria sobrevivência do homem e da natureza.

É preciso criar uma ética que conjugue o saber científico com o saber antropológico e cultural, que se harmonize com a globalização e a sociedade do conhecimento.

A ética aplicada procura harmonizar-se com um mundo da complementaridade, supondo uma razão comunicativa e solidária. Parte da realidade (é indutiva) e serve-se de princípios para avaliar as consequências das ideias que orientam a intervenção na realidade.


Tais princípios resumem-se a quatro:

1º princípio da autonomia (PA): «Não faças a outrem (pessoa ou grupo) aquilo que ele não faria a si mesmo, e faz-lhe aquilo que te prometeste a fazer-lhe de acordo com ele.»

2º Princípio da não-maleficência (PnM): «Na ignorância das reais consequências da nossa acção devemos ser cautelosos, de modo a que se não cause a terceiros maleficências que podem ser evitadas».

3º Princípio da beneficência (PB): «Faz aos outros o que é bom para eles».

4º Princípio da justiça (PJ) «Os iguais devem ser tratados de igual forma e os diferentes de forma diferente».

A ética aplicada apela ao diálogo: a gravidade dos problemas da tecnociência (imprevisibilidade das consequências da capacidade da técnica científica) tornou as questões da aplicação da técnica científica em questões de cidadania.

Três exigências orientam a ética aplicada:

1.-exige-se que a opinião pública manifeste sua posição.

2.-exige-se que os interesses particulares de cada grupo social se subordinem aos interesses colectivos.

3.- Exige-se que os objectivos económicos, sociais, culturais e políticos sejam articulados entre si e com o princípio de um progresso orientado pelo respeito da solidariedade antropocósmica.

Este é, pelo menos, o meu entender da ética aplicada.


Comments:
Terminei a tarefa de que me tinha incumbido. Pouco debate consegui promover, com excepção da minha amiga "in". E penso que, neste campo, é mais importante a postura desenvolvida pelo carácter. Mas como a informação também ajuda a desenvolver a competência dessa postura, fico com a esperança de ter sido útil nesta tarefa.
 
Caro amigo, tem dúvidas quanto à utilidade do que aqui publicou?
Não tenha. Eu aprendi imenso. Lê-lo continua a ser uma redescoberta pessoal da filosofia e um agradabilíssimo prazer.
O seu texto é um excelente ponto de partida para o debate dos grandes problemas e um convite ou instigação a reflexões de terceiros na procura das soluções mais adequadas e carectas.
Da minha parte, hoje, estou incapaz de acrescentar o que quer que seja. Sinto-me cansada e com uma dor de cabeça que mais não é uma ordem ao descanso dentro de horas. Por isso, não leve a mal, mas vou descansar um pouco e talvez volte mais tarde, mas, quiça, fora de horas para si :-)
ln
 
Um bom descanso.

Um abraço
Jbmag
 
Obrigada.
Prefiro JBVMM.
A propósito e se me é permitido perguntar, é primo de quem?

ln
 
Ou melhor, quem é o amarante?
 
A imha única tia reside em Folgoso, Amarante. Quando Avelino concorreu á Amarante, senti, como se fosse da família dos amarantinos, o problema e tornei-me primo de Amarante. Amarante é uma Terra muito linda e os contributores, como uma família que se doi pela sua Terra(que também significa mãe),acharam que com um blog (da margem esquerda) a podiam defender das garras da demagogia do Avelino.

Aí está a história do nascimento deste blog.
 
E defendeu? Ou tem defendido?
ln
 
Defendemos (Avelino perdeu as eleições) e continuamos a defender. O exercicio da cidadania é, para nós, um dever que dá sentido ao que acreditamos ser melhor para a sociedade de que fazemos parte.
 
Ainda bem para o Marco que pode contar convosco.
Recordo, agora, que foi por causa do "pobre marco" - expressão curiosa e de duplo sentido- à qual achei imensa graça, que comecei a comentar neste blog e, tb recordo, que esse post deu uma celeuma terrível na caixinha de comentários.
Sabe que mais? Eu gosto de ver as caixinhas cheias e, portanto, que venham cá meter-se connosco!! :-)

Subscrevo-o o que refere sobre o exercício da cidadania. Não se esqueça, contudo, que nem todos temos vocação para nos "atrever a vir a público” fazê-lo.
Mas isso não quer dizer que não o façamos, de outros modos, naturalmente. Esta é a minha faceta mais reservada a falar.
Desejo-lhe um bom feriado, para si.
ln
 
Como já reparou, enganei-me. E isto tudo (o engano) por causa da história do Marco que não consigo esquecer.
Leia, por favor, "Ainda bem para Amarante que pode contar convosco"
 
Ora viva.
Será que está tudo bem pela margem esquerda?
ln
 
Naturalmente, se achasse que tudo estava bem "pela margem esquerda”,a margem não seria de esquerda e muito menos "tribuna livre".A natureza desta margem é o inconformismo: inconformismo relativamente a si própria, procurando corrigir os seus próprio erros, e inconformismo relativamente a um mundo que queremos mais justo, fraterno e mais humano.
 
Perguntei porque estranhei a ausência. Era, portanto, uma pergunta mais pessoal do que, propriamente, politica, social, mundana, etc.
Já percebi, ou intui, as razões.
Desejo que passe um bom domingo.
ln
 
A minha ausência penso já estar justificada. Mas, também não queria ter obrigações rigidas.

Entendo o blog como uma das possíveis expressões de um modo de ser e não um programa de vida.
 
E acha que estou a colocar-lhe obrigações rigidas?
Não foi intencional. Apenas senti a ausência e expressei-a. Da próxima terei mais cuidado.
ln
 
Sei que não, mas eu só queria deixar claro que entendo o blog como uma forma de tomar posição sobre questões que me parecem relevantes, debater ideias e nunca criar obrigações que possa não cumprir.
 
Tem toda a razão. O blog deve ser isso mesmo: instrumento de livre expressão de posições sobre coisas relevantes quando entender e nunca uma obrigação certa, rigida e com prazo para cumprimento.
Quem o lê é que se arrogou no erróneo direito de o instigar à escrita através duma interpelação imprópria e descabida. Queira perdoar-me.
Por outro lado, foi ainda a forma, meia atabalhoada - reconheço-o agora, que encontrei de lhe dizer que comprava alguma da solidão que tinha posto à venda.
ln
 
Temo de nos compreender mutuamente. Vemos escrita e não vemos expressões que ajudam a compreender o que diz a escrita.

É bom sentir que o nosso interlocutor é simpático e amigo.
 
Olhe, acaba de dizer uma coisa que ainda ontem escrevi num blog que encerrou.
A blogoesfera é fascinante pela forma inovadora e célere com que permite às pessoas comunicarem, debaterem, expressarem-se, etc. Mas falta-lhe tudo o resto: as expressões, os gestos, o olhar, o rosto, os cheiros, etc, etc, Tudo aquilo que existe e complementa uma comunicação oral - a minha predilecta.
ln
 
Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?