sábado, outubro 28, 2006

 

Ética da comunicação

Texto 15

Karl-Otto Apel, Jurgen Habermas e Wittgenstein substituem a relação indivíduo-consciência pela relação comunidade-diálogo.

Toda a acção comunicativa torna-se, então, na expressão de uma inter-subjectividade numa comunidade de diálogo. E, neste sentido, o projecto de vida de cada um de nós só será autêntico se for aberto e argumentativo.

Não podemos tratar os outros como objectos e instrumentalizar a relação que temos com eles. A felicidade (fim último do ser humano) e a justiça (princípio organizador da vida em sociedade) não são o resultado de improvisações ou de dogmatismos: temos de estar abertos a pontos de vista diferentes por forma a encontrar o melhor caminho para viver em sociedade.

A ética da comunicação pressupõe: que o falante possua um ethos (cartácter), a mensagem se subordine a um logos e o ouvinte desenvolva um pathos (sentimento) harmonizado com o ethos.

Isso só é possível, se pelo uso de argumentos racionais estarmos disponíveis para convencer o outro ou deixar-nos convencer por ele e assim instaurarmos, ao nível da comunidade de diálogo, os valores da verdade, da justiça, da solidariedade e da responsabilidade.


Toda a argumentação deve pautar-se:
por amor à verdade (procurando que o conteúdo do que digo seja verdadeiro e que os outros acreditem),
por dever de sinceridade (só devo falar do que eu próprio acredito),
por dever de justeza (devo escolher uma enunciação que se harmonize com os princípios da imparcialidade por forma a que outro aceite aquilo que lhe dizemos sem receios de se sentir manipulado).
o que eu digo deve ter um sentido (toda a discussão deve constituir uma partilha de pontos de vista, com a intenção sincera de respeitar a livre adesão ou rejeição de pontos de vista contrários.)

Segundo Wittgenstein a comunicação deve obedecer ás seguintes condições:

1º Condições lógico - semânticas:

A nenhum falante é licito contradizer-se


1.1Todo o falante que aplicar um predicado “F” a um objecto “a” tem que estar disposto a aplicar “F” a qualquer outro objecto que se assemelhe a “a” sob todos os aspectos.
1.2Não é lícito aos diferentes falantes usar a mesma expressão em sentidos diferentes.

2.Condições pragmáticas da comunicação.

2.1A todo o falante só é licito afirmar aquilo em que ele próprio acredita.
2.2Quem atacar um enunciado ou norma que não for objecto da discussão tem que indicar uma razão para isso.

3.Regras do discurso argumentativo.

3.1É lícito a todo o sujeito, capaz de falar e agir, participar no discurso.
3.2É lícito a qualquer um problematizar qualquer asserção
3.3É lícito a qualquer um introduzir qualquer asserção no discurso.
3.4É lícito a qualquer um manifestar suas atitudes, desejos e necessidades.
3.5Não é lícito impedir algum falante por uma coerção exercida dentro ou fora do discurso, valendo-se dos seus direitos estabelecidos em 3.1. e 3.2.


Wittgenstein. In: Tractatus Logico-filosófico (Fundação Calouste Gulbenkian)

Comments:
"Vou colocar um post sobre a ética da comunicação. No essencial já V/ disse tudo: é resolver conflitos de entendimento de sentido."
Valha-me Deus! Basta olhar para o que eu disse e o seu post para percebermos como não foi rigoroso quando faz este elogio.
O post está muito bom, concordo quer com as condições quer com os princípios a que deve obdecer a argumentação.
Sabe uma coisa? Depois de ler este post fico ainda mais certa de que fiz bem questioná-lo lá em baixo. Desta forma foi possivel esclarecer o sentido da sua expressão e evitamos males entendidos que iriam ser pedrinhas na engrenagem da comunicação futura.

Ps: as únicas pedrinhas que agora restam são as "chatas" das letrinhas que dão pelo nome de verificação de palavras (cada vez mais longas e complicadas) e que tenho de enfrentar para comunicar consigo. Não leve a mal, estou a brincar quando digo isto.
ln
 
Em primeiro lugar, agradeço as suas simpáticas palavras, querida amiga “in”, e espero que continue a dar sinal da sua simpatia neste blog.

As "letrinhas" são uma simpatia, não desfazendo de quem as escreveu!...

Terminei os textos sobre os valores. Apetecia-me, ainda, falar sobre a ética aplicada, mas não sei se vale a pena. A ética é uma postura de vida e não uma retórica. Espero que a simpatia da “in” me ajude na decisão.

Aos contributores (camaradas e amigos) deste blog: por favor, não posso estar sempre a fazer as despesas da casa. Além disso, não sei se a minha linha é justa e Vocês, (e já, agora, digo os nomes dos próprios: arq.Hugo e clín.Simões) que são inteligentes, sabedores e tinham, naquele tempo em que as “formas de vida” configuram a fama de serem charmosos e o proveito (ao contrário deste desalinhado posteiro), um auditório imenso, vejam se escrevem!

O meu astral já subiu muito! Espero que os meus comparsas, camaradas, amigos, camponeses e marinheiros (?) contributores, fruam do mesmo astral. Eu não quero ser sozinho o alvo das simpatias, mesmo que, eventualmente, sejam no singular.
 
Já li e já venho.
ln
 
Já leu?!...

Eu tenho um texto (meu) sobre ética aplicada. Não sei se é interessante ou não?!... Pode não interessar postá-lo por haver questões mais importantes e eu aceito isso!

Mas, espero o seu regresso.

Chegeui da caça. As pestanas são chumbo nos meus olhos e sem olhar não consigo digitar. Amanhã estou aqui, no meu posto.
 
Vejo que passou o dia de Domingo muito bem a olhar à boa disposição que acaba de plasmar aqui. Ainda bem que assim foi, fico contente.
A margem esquerda faz parte dos meus favoritos e é diariamente visitada por mim. Umas vezes comento outras não. As razões são as mais diversas e vão desde a falta de tempo, à maior ou menor empatia/identidade com os textos, ao meu estado de espirito, etc, etc. Dias houve em que me apeteceu comentar e não fiz porque achei que estava tão amarga de espirito que não devia comentar para não escrever o que não devia. Como vê, as razões pelas quais as pessoas não comentam não está, necessariamente, na relação directa do mérito dos textos.
É obvio que continuarei a vir cá sempre que me apetecer e perceber que os meus comentários são bem recebidos. Por isso, não é nenhum favor que lhe faço e a simpatia que existe e reconheço que me merece, bem como toda a consideração e estima, deve-se à forma como sempre me recebeu e tratou neste seu espaço. Portanto, é recíproca e retributiva.
Por outro lado, venho porque aprendoo imenso com estas visitas (gosto desta vertente filosófica e do cunho pessoal que imprime aos textos) e com o diálogo que me permitiu estabelecer consigo.
E agora a parte menos agradável, tenho de dizer-lhe que assino LN e não "in". E as outras letrinhas a que me referi são aquelas que aparecem quando carrego o meu comentário e o servidor exige que eu "copie" umas letras que me apresenta para validar o comentário. E se isso não é obstáculo ao nosso diálogo, tb não o será agora, a verdade é que dificulta o tempo em que respondo quando estamos simultaneamente online os dois.

ln
 
Ah! O texto sobre ética aplicada!! esqueic-me de lhe dizer: venha ele. Claro que deve publicá-lo.
Estou à espera.

Quando lá em cima disse "já li" referia-me ao seu comentário e como não pude responder de imediato...disse-lhe que já vinha.

Mas, fica para amanha. Agora descanse. Boa noite e até amanhã.
ln
 
A questão das "letrinhas" é também a minha questão. E eu entendi o que queria dizer.

No blog, o que mais me dá prazer é o debate. Talvez isso seja um sinal dos tempos, tempos de muita solidão, em que as pessoas quase não falam umas com as outras. E foi pela palavra que o hominideo se tornou homem. Na própria vida, o "verbo" foi associado ao próprio deus.

Tenho pena é que os meus "compinhas" contributores me tenham deixado sozinho. Pode ser que ao lerem este desabafo, apareçam.
 
Disse "vida" e queria dizer BIBLIA. São as disgrafias do costume.
 
Olhe, então já somos dois. Porque também eu gosto do debate. Pena que eu não consiga fazê-lo com o nível de conhecimentos com que me presenteia a mim.
E o (seu) texto sobre ética aplicada? Estou á espera.
ln
 
Sabe que a humildade em boca própria é vitupério!
 
Caríssimo,
Não se trata de humildade, mas duma consciência clara, ou ciente, das minhas limitações intelectuais. Ao que acresce o facto de ainda ser jovem e não possuir metade, sequer, da sua experiência de vida e aquisição acumulada de conhecimentos.
E, por favor, não encaminhe as coisas por ai, a última coisa de que hoje preciso são: males entendidos.
A minha humildade, ou consciência da limitação, não deveria ter-se sobreposto, como deprendo do seu comentário ter acontecido, ao texto sobre ética aplicada - essa sim importante e à qual vinhamos fazendo refer~encia.
Porém, omitiu-o por completo!!
Presumo que se decidiu pela sua não publicação.
ln
 
Sabe que ser jovem tem uma grande vantagem sobre os velhinhos como eu: estão no tempo em que a informação e o conhecimento é igual ao dos velhinhos; não têm preconceitoe em relação ao novo e estão mais disponíveis para agarrarem o futuro.

Tudo isto são vantagens. Só eu poderia ter razões para ser humilde:estou mais limitado em razão do tempo. Mas, como não posso contrariar a lei da vida, de nada me serviria a humildade desta situação.
 
Ser jovem tem vantagens e desvantagens, assim como não ser jovem tem, igualmente, vantagens e desvantagens. No caso e noutro dependem da perspectiva de análise.
Eu sei a sua idade. Bastou-me ver o profile. E lembrar-se-á, porventura, que me apercebi que fez anos no passado dia 5. Ainda assim, não lhe noto qualquer limitação intelectual e ainda não pressenti a existência de qualquer preconceito relativamente ao novo. A sua presença na blogoesfera é disso o exemplo vivo.
O seu último parágrafo fez-me sorrir. Deixe lá que eu tb gostaria de ter razões para muita coisa e não tenho.
Abstractamente, a lei da vida é igual para todos, logo devemos aceitá-la. Só assim consguimos usufruir de todas potencialides que ela nos proporciona.
Vi que publicou o texto sobre a etica aplicada. Por ora estou sem tempo, mais lerei logo, certamente.
ln
 
Aguardarei os seus comentários.
 
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