sexta-feira, outubro 27, 2006

 
Texto 9.

O homem inventa os valores

"(...) você recebe com uma das mãos o que dá com a outra; quer dizer, no fundo os valores não são sérios, visto que você os escolhe. A isto eu respondo, que muito me aborrece que seja assim; mas se suprimi o Deus Pai, é bem necessário que alguém invente os valores. É necessário encarar as coisas como são. Além de que dizer que inventamos os valores não significa senão isto: a vida não tem sentido a priori. Antes de viverdes, a vida não é nada; mas de vós depende dar-lhe um sentido, e o valor não é outra coisa senão esse sentido que escolherdes. Por isso vedes que há possibilidade de criar uma comunidade humana.

Jean-Paul Sarte/Vergílio Ferreira, O existencialismo é um humanismo, Editorial Presença, Lisboa, pp265-266


Texto 10.


Valorar é realizar a humanidade

"Hoje nenhum filósofo minimamente lúcido diria que a lei moral está inscrita na razão ou no coração de cada um, mas antes que está escrita na tradição, na história ou na linguagem. O que não equivale a dizer que em ética vale tudo ou que tudo é relativo. Nem tudo são desacordos em ética: há valores básicos, escolhidos pela declarações de direitos humanos, valores que são universais só porque são abstractos. Ou porque são formais e carecem de conteúdos mais precisos. A autonomia passa pela aceitação do formalismo moral e consiste, exactamente, na vontade de o manter. Procurar ser autónomo, numa tal perspectiva, não é recusar o marco de valores absolutos: a igualdade, a liberdade, a solidariedade, a paz. É aceitar esses valores - fora dos quais não seria capaz de dizer o que é a ética - e propor-se seriamente realizá-los. Como? Procurando ver, na medida das possibilidades e responsabilidades de cada um, como se deve actuar, aqui e agora, de modo a contribuir para que o mundo em que vivemos seja mais humano."

Victoria Camps. In: Paradoxos do individualismo, Relógio D'Água.LIsboa 1996.p.27

Texto 11.

A problematização dos valores

"Os valores podem, de facto ser questionados (1) se a sua satisfação tiver consequências, presentes ou futuras, para outros valores, (2) se forem valores adquiridos «por uma determinada época», ou se instrumentos para alcançar outros valores mais definitivos. Mas ainda que haja um consenso alargado sobre as regras do raciocínio que se aplicam a questões concretas, a experiência de séculos provou ser muito mais difícil atingir um consenso em relação às regras que devem nortear o raciocínio sobre valores conexos. Só a consciência individual pode decidir"

Herbert Simon, In. A razão nas coisas humanas, Gradiva Lisboa. pp.20-21.


Comments:
Caríssimo primo,
assim, a essa velocidade cruzeiro, não consigo acompanhar tanto valor!! :-)
Textos suculentos como estes exigem tempo para reflexão.
Deixarei para o fim-de-semana.

ln
 
Sabe, como ninguém tem comentado, eu pensei cumprir apenas o que tinha prometdo e colocar textos à "grosa". Vou terminar com mais três ou quatro textos. Gostava que lesse sobre "o Homem light" e "ter uma profissão". Penso que desvalorizando-se essa ideia, todo o sentido da vida se perde. È uma opinião pessoal.
 
Ó valha-me Deus!!
Então, não sabe que andamos todos muito ocupados?
Além disso, a falta de comentários não é, de todo, sinónimo de ausência de visitantes ou de apreciadores dos seus textos.
Vou fazer-lhe o gostinho e ler "O Homem light" e "ter uma profissão" e depois comento, garanto-lhe, mas só mais logo.
ln
 
Obrigadinho.
 
Terei sido mal interpretada ao escrever "gostinho"?
É verdade que, por vezes, o idioma funciona como obstáculo à comunicação, não quero, porém, acreditar que uma escrita imperfeita, como a minha, tenha igualmente essa capacidade de obstaculizar um diálogo que é, a todos os niveis, tão profícuo para mim.
Vou terminar de ler os textos.
ln
 
Não percebi!...

Se prefere, digo obrigado. Um conflito de interpretação é sempre um conflito de sentido. O sentido que dei ao obrigadinho nada mais carrega que o de obrigado. Procurar outro sentido é especular.
 
Não queria que se complicasse o que não faz sentido complicar. Não tive a intenção de rimar "gostinho" com "obrigadinho", mas se o fizesse nada de mal vinha ao mundo. O importante é o substancial e isso é o debate sobre os valores. Coisa que, em boa verdade, não consegui.
 
Agradeço-lhe a explicação. Em caso de dúvida devemos, entendo eu, saná-la. Foi o que fiz.
Já comentei os textos sugeridos. Obrigada eu.
ln

ps. desculpe reforçar mas, detesto mal entendidos, e, por hábito, não descando enquanto não os esclareço.
 
Estamos simultaneamente online?
 
Não compliquei. Já expliquei que tive dúvidas. Seriam legitimas? Assim as entendi quando deixei o comentário. Mas também já aceitei a explicação. De novo em sintonia?
ln

Quanto ao debate pretendido? Caramba, sabe melhor do que eu que esta coisa da blogoesfera é volátil.
Tão depressa temos uma vontade voraz de comentar como, de repente, nos distanciamos e apenas lemos...
 
Não vá já embora. Vou colocar um post sobre a ética da comunicação. No essencial já V/ disse tudo: é resolver conflitos de entendimento de sentido.
 
Eu não me vou embora. um dos problemas com que me debato ultimamente é, precisamente, este vício! Rouba-me tempo ao sono e a outros afazeres!
Mas vou ficando por aqui, vá lá postar que eu leio e comento.
 
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