quinta-feira, outubro 26, 2006

 

"Que valores para este Tempo?"

Texto 7

Ética aristocrática e ética meritocrática

“A oposição capital que separa a ética aristocrática dos antigos da ética meritocrática dos republicanos modernos poder-se-ia caracterizar deste modo: nos Antigos, a virtude, entendida como excelência no seu género, não se opõe à natureza mas, pelo contrário, ela não é mais do que uma actualização conseguida das disposições naturais de um ser, uma passagem, como diz Aristóteles, do poder ao acto. Ao invés, para os filósofos da liberdade e nomeadamente para Kant, que retoma a antropologia de Rousseau, mas também, por exemplo, para os republicanos franceses, a virtude aparece, exactamente ao contrário, uma luta da liberdade contra a naturalidade (animalidade) em nós. É, portanto, na ordem do pensamento que se assiste a uma verdadeira revolução face às visões éticas da Antiguidade. Nesta nova perspectiva, a natureza é mais maléfica que benéfica, porquanto as nossas inclinações "naturais", as "propensões espontâneas e "sensíveis", vão todas, ou quase, no sentido do egoísmo"

Lue Ferry e Jean-Didier Vincent. In: O que é o homem?. Edições ASA. 2003. p. 40


Texto 8


Ética da convicção e ética da responsabilidade

“Temos que ver com clareza que qualquer acção eticamente orientada pode ajustar-se a duas máximas, fundamentalmente diferentes entre si e irremediavelmente opostas: pode orientar-se de acordo com a «ética da convicção» ou de acordo com a «ética da responsabilidade». Não quer isto dizer que a ética de convicção seja idêntica à falta de responsabilidade, ou a ética da responsabilidade à falta de convicção. Não é nada disso em absoluto. Mas há realmente uma diferença abissal entre agir segundo as máximas de uma ética da convicção, tal como a que ordena (religiosamente falando) «o cristão age bem e deixa o resultado à vontade de deus», ou segundo uma máxima da ética da responsabilidade, como a que manda ter em conta as consequências previsíveis da própria acção .(...) Quando as consequências de uma acção realizada em conformidade com uma ética da convicção são más, quem as executou não se sente responsável por elas e, pelo contrário, responsabiliza o mundo, a estupidez dos homens ou a vontade de Deus que os fez assim. Quem, pelo contrário, actua em conformidade com uma ética da responsabilidade, toma em linha de conta as possíveis consequências da sua acção. (...) Deste ponto de vista a ética da responsabilidade e a ética da convicção não são termos absolutamente opostos, mas sim elementos complementares que devem concorrer para formar o homem autêntico, o homem que pode ter «vocação política».

Max Weber. in: O político e o cientista. Editorial Presença., LdaLisboa 1979 pp 85 - 97

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