segunda-feira, outubro 23, 2006

 

Origem do sentimento de piedade

Mencius, filósofo chinês do séc. IV aC., contemporâneo dos filósofos gregos, questionado sobre a origem do sentimento de piedade, recorda o seguinte episódio: um dia, quando levavam um boi para o sacrifício, o príncipe deu ordem para libertarem o animal, pois não suportava o ar amedrontado deste. Pediu, então, que o substituíssem por um carneiro e despediu-se dos seus súbditos.

Mencius explica, de seguida, por que é que o príncipe permitiu que matassem o carneiro em vez do boi - o príncipe tinha visto o olhar do boi e não o do carneiro. Esse olhar tinha desencadeado nele uma reacção imediata, enquanto o sacrifício do carneiro (não estando presente) tinha permanecido uma coisa abstracta.

E concluía: em qualquer homem existe uma reacção insuportável ao ver o que ameaça outro. Em contrapartida, somos indiferentes às desgraças que acontecem aos outros, desde que não as vejamos e, assim, não sintamos que possam vir a acontecer-nos.

Talvez esteja aqui a justificação para colocar uma venda no condenado ao fuzilamento.

Sobre o sentimento de piedade Rousseau e Rochefoucauld não tiveram pontos de vista muito diferentes.

Segundo
Rousseau: "A piedade é doce, porque metendo-nos no lugar daqueles que sofrem, sentimo-nos contudo o prazer de não sofrer".

Para Rochefoucauld: "a piedade é um sentimento egoísta".

Comments: Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?