quinta-feira, setembro 07, 2006

 

Três acontecimentos que merecem reflexão

Fiz trinta e dois anos de casado e, porque pertenço a um casal de resistentes, comemorei a efeméride. Concordarão, por isso, que se justifica a ausência do blog nestes últimos dias.

Entretanto, três acontecimentos merecem alguma reflexão:

1º Há valores universais mínimos que se impõem, independentemente das ideologias. O levantamento do bloqueio de Israel ao Líbano é um passo no sentido do respeito pelo direito internacional e pelos direitos humanos que temos de aplaudir. Também o reconhecimento (que toda a gente já sabia) por parte de Bush da existência de uma rede secreta de detenções espalhadas pelo mundo vai no mesmo sentido. O mundo fica melhor, sempre que a consciência critica se levanta contra o MAL. Não há um mal melhor do que outro, nem há erros que justifiquem outros, como pensam alguns analistas maquiavélicos que especulam sobre os factos dos nossos tempos.

2º O acordo entre o PSD e o PS sobre a reforma da Justiça é um marco importante. Pela primeira vez, a reforma da justiça é tida como uma questão que ultrapassa os pontos de vista partidários e se situa como questão nacional. Ficou desarmadilhada a estratégia da vitimização adoptada por algumas direcções sindicais de agentes da Justiça. Precisamos de uma Justiça prestigiada pela sua independência, isenção, competência e sentido do dever, mas isso só pode acontecer se ela funcionar com sentido de serviço público e não de corporação de interesses ou lobby privilegiado.

3ªO anúncio de Blair que abandonará o cargo de PM nos próximos 12 meses é também uma boa notícia. O primeiro-ministro britânico, tal como o nosso Sócrates, representa a deriva da social-democracia ou socialismo democrático para o mimetismo liberal de Bush e o servil apoio às suas políticas, sendo a questão do Iraque a manifestação mais obscena desse conluio. Blair e Sócrates (na linha do neo-liberalismo americano) fizeram tábua rasa das causas sociais que marcaram a nossa tradição social-democrata. Os eleitores de Blair já lhe disseram que o seu caminho não lhes interessava e o mesmo acabará por ser dito pelos eleitores que escolheram Sócrates.

Três boas notícias que me agrada registar e que saiem do pântano futebolistico que tem vindo a reflectir o funcionamento mateusiano do nosso próprio País.

Convidou-me um amigo para ir até ao Alentejo à caça das codornizes, a que acedi.


Até á próxima semana e sejam felizes.

Comments:
Parabéns, camarada, pela efeméride!
É bom saber que há sempre alguém que resiste :-)
 
Obrigado, camarada. E olhe que algumas vezes tive que "dizer não"!

Naturalmente, para não dar pontapés na gramática matrimonial.
 
Porra Compadre, que Vexa aqui na foto até parece o Padre Fanhais!!!

Ah gandulo!!!

Muitos parabéns, um grande abraço e...FORÇA NA DITA!!!

Cabral-Mendes
 
Parabéns e o meu abraço a ambos !


Silvia
 
Obrigado a Todos. O Fanhais é meu amigo e fui seu colega. Suponho que ele pertenceu a um grupo, ao qual eu também pertenci,que fez uma experiência de operários nos arredores de Lisboa, como era timbre (naquele tempo) de quem queria sentir na própria pele o que era a opressão capitalista. Velhos tempos, mas generosos tempos!!!... Agora só se pensa na ganhuça e na dependura no pacovismo do jet-set.

A foto é a única que tenho do registo do casamento no cartório. Mas digam-me, se não somos um casal simpático!!!...
 
Ó Compadre, a propósito, veja lá que eu ainda tenho um disco de 45 rotações, do Francisco Fanhais, descalça vai pela verdura e não segura, é mais ou menos isto...o rapaz até cantava bem...

Quanto à foto, támbém a acho excelente: o testemunho, certamente, de um grande amor!

Um abraço!

CM
 
A canção de Fanhais que eu mais gosto é a do poema de Sophia de Melo. A propósito desta SENHORA, que para mim é a maior poeta do séc.XX, lembra-se de "A menina do mar"!

Este texto, de uma ternura franciscana para com a natureza, deveria ser considerado um manual de ecologia.

Cabral Mendes, fico feliz, quando os compadres aparecem neste blog quase segiloso.

Um grande abraço!
 
Compadre, como a Sophia, a minha alma é feita de maresia...

Como bem diz, a Menina do Mar tem um cunho bem ecológico...essa do franciscano está uma boa tirada, Compadre...


Aliás, a obra de Sophia foi marcada pela comunhão com a Natureza...não sei se com um certo pendor panteísta...


Quanto ao blog,eu também gosto de (verdadeiras) tertúlias à roda de um círculo de amigos...bons momentos que tivemos, não foi Compadre? Hão-de vir outros...

Um abraço!
 
Em tempo: a mim dá-me prazer lê-lo, Compadre. Daí visitar (com proveito) o seu blog, mesmo que discorde, ali ou acolá...isso não importa...

Um grande abraço!
 
Sabe que Sophia está muito ligada a Miramar, aqui bem perto do Porto. Mais do que a Lagos!

O mar é, de facto, o simbolo de uma certa transcendência. Nas narrações míticas, as águas tenebrosas do mar eram habitadas por um estranho monstro, o Leviatã. Hobbes aproveitou esta imagem para falar da «guerra de todos contra todos» gerada pelo individualismo possessivo do estado natural. Também Camões se serviu do horrendo Adamastor para ligar o infortúnio amoroso ao naufrágio e falar dum «medonho choro». E, mais recentemente, a poetisa do Livro das Mágoas, Florbela Espanca, irmanou no mesmo destino os olhos e o sofrimento: «Irmãos na Dor, os olhos rasos de água/ chorai comigo a minha imensa mágoa».

As fontes de água são também símbolos de vida, esperança e alegria. Logo no início do livro do Génesis diz-se que «Deus era levado sobre as águas» e no Evangelho de S. João a água é fonte de vida eterna «Mas a água que eu lhe der, virá a ser nele uma fonte de água , que jorre para a vida eterna».

Caro amigo, se o mar não é o expoente do espírito absoluto que alimenta o ser da vida, andará muito perto de o ser.

um abraço.
 
Eu não digo que tiro um bom proveito da "sua" margem esquerda?...

Um abraço também, Compadre.
 
O maior proveito será o da amizade gerada neste jornal de parede. E por ela, já vale a pena alimentar o blog.
 
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