segunda-feira, setembro 25, 2006

 

O que mais nos esperará, Sócrates?!...

A disciplina de filosofia tornou-se desnecessária ao ingresso no ensino superior. É a primeira vez que isso acontece na história da nossa democracia.

Não podemos deixar de ficar perplexos ao constatar que nem as faculdades de Filosofia, nem a Sociedade Portuguesa de Filosofia e nem mesmo a própria Associação dos Professores de Filosofia tomaram posição. E é tanto mais espantoso este silêncio, quanto é certo que, hoje, são os próprios reformadores a proclamarem o “regresso” á filosofia como necessidade de estimular respostas para os desafios que os novos tempos colocam. Por alguma razão, a Universidade Católica criou, inclusivamente, uma licenciatura em Filosofia Empresarial e, não é por acaso, que, ultimamente, os escaparates das livrarias se enchem de livros sobre filosofia do conhecimento, da linguagem, da política, do direito, da justiça, da moral (bioética, ética empresarial, ética política, etc.) e proliferam as traduções de obras filosóficas, desde o velho problematizador Sócrates, passando por Aristóteles até Wittgenstein.

É que, toda a interrogação sobre os problemas da vida, da política, da economia, da arte, da ciência ou da moral foram reflectidos pelos grandes filósofos e é o espírito filosófico que abre perspectivas à resolução de tais problemas.

A própria ciência não dispensa as concepções filosóficas da vida e do mundo; e não há exercício da cidadania, nem é possível aprofundar a democracia dispensando um ponto de vista filosófico.

Sem o espírito crítico que a filosofia promove desaparece o ponto de vista fundamentador das convicções bem como o espírito inovador.

O virar costas à filosofia terá, naturalmente, reflexos no desenvolvimento das competências cognitivas, na sabedoria que deve orientar a vida, na procura de finalidades para as instituições, na razão da tolerância, no compromisso com o dever, na ética das convicções e da responsabilidade; e, no próprio sentido da relação do homem com os outros homens, a vida e o mundo, que dá finalidade à existência.

Naturalmente, a Filosofia não é uma disciplina fácil, mas a sua dificuldade não legitima a recusa do seu ensino.

Dispensando-se esta disciplina fundamental na formação humana, desumaniza-se a vida e abre-se o caminho à geração da ganância, deixando como alimento do espírito a visão egoísta da vida e das suas relações com os outros.

O Governo do PS, com o patrocinar a dispensa da filosofia, abandonou tudo o que poderia dar sentido à sigla que o justifica.

O que mais nos esperará, Sócrates?!...

Comments:
Caro Primo:

Toca a informar-se antes de dizer que a Sociedade Portuguesa de Filosofia não fez nada acerca da eliminação do exame nacional da disciplina. Fez e continua a fazer e está quase tudo aqui:
http://www.spfil.pt/docs.html#comunicados

Abraço,
Costa
 
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