terça-feira, julho 25, 2006

 

Contra o trespasse do Rivoli

O Presidente da Câmara do Porto, ladeado por duas individualidades não medalhadas culturalmente, afirmou que no último mandato transferiu para o Teatro Rivoli cerca de 11 milhões de euros. E, em comparação com outras áreas que considera mais prioritárias, apenas metade deste valor foi direccionado para a reabilitação das escolas básicas (5,5 milhões de euros), um pouco mais do que isso foi dedicado à acção social, que inclui o projecto Porto Feliz entre muitos outros (7,3 milhões de euros), o Gabinete do Desporto recebeu cerca de 6,7 milhões de euros e o total das Juntas de Freguesias recebeu cerca de 13 milhões de euros, tanto como o Rivoli e o Teatro do Campo Alegre juntos.

Nestas verbas ficaram por referir as despesas associadas ao circuito dos carros antigos que se repetirá no próximo ano.

Naturalmente, a política cultural de uma cidade custa dinheiro. E, se ela não for para adormecer os munícipes, ainda mais dinheiro custa e raramente arrasta multidões.

Mas só a cultura, que obriga a pensar, pode promover a capacidade criadora que transforma o mundo num mundo mais humano. Sendo assim, a cultura é o fermento da alma da cidade.

Como sabemos, “cidade” para os gregos não é um mero território, mas o espírito de uma vida em comum. E o que alimenta e desenvolve esta alma ou espírito é a cultura. Poderíamos considerá-la um direito a poder desenvolver um olhar crítico e criador sobre a vida para fazer da cidade uma cidade melhor. Por alguma razão “culto” se aproxima da ideia de “sagrado”.

A qualidade de uma política cultural depende, por isso, da sua capacidade para desenvolver este objectivo. Trespassar o Rivoli para shows do La Féria pode dar muito dinheiro à empresa do La Féria e encher o olho a muitos papalvos, mas não faz com que o Rivoli desempenhe o seu papel de promover a cultura.

Estranha-se que um presidente da Câmara, ainda por cima medalhado culturalmente, paute a cultura por critérios que lhe são incompatíveis, como são os critérios comerciais. Seria melhor que o presidente da Câmara do Porto reservasse esses critérios para o circuito dos calhambeques: estes passando, só deixam ruído, o que não é o caso da cultura, no sentido que lhe foi dado pelos clássicos.


Por isso, a manifestação que, ontem, se realizou frente ao Rivoli, com muitas centenas de pessoas, justificou-se e espera-se que o Presidente da Câmara do Porto corrija o disparate de entregar o Rivoli ao comércio dos espectáculos

Comments:
Olhe que está mal informado!
 
Ao ler, agora, o "Público", reparo que pode confirmar que está mal informado, ao ler o que diz este Jornal sobre a matéria.
 
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