domingo, junho 18, 2006

 

Esperavam-se outras ideias ou talvez não!...

Quem quer fazer carreira política sente-se na obrigação de falar de tudo, mesmo sobre aquilo de que não percebe patavina. A isso não escapa António Borges.

Num artigo, publicado, hoje, no “Público” o banqueiro esbanja elogios à Ministra da Educação. Segundo este economista, a Ministra atacou os principais problemas da escola e esses residem nos professores. Considera a escola como uma estrutura desenhada para um sistema uniforme que dá cobertura a populações homogéneas (talvez do tipo do seu bairro residencial de Cascais!). Nem uma palavra diz sobre o problema da integração dos alunos nas escolas, dos programas extensos e que repetem em muitas disciplinas o mesmo tema, com linguagens diferentes; nada diz sobre as condições em que os professores trabalham, sobre a constituição de turmas (na mesma escola pode haver turmas excelentes e turmas de repetentes desinteressados da aprendizagem), sobre a degradação da imagem pública dos professores, a sua falta de autoridade, etc., etc..

António Borges terá ficado encandeado pela escola de negócios que dirigiu e isso não o deixa ver o que é evidente para quem queira falar com algum rigor sobre a escola pública: a qualidade da educação e da aprendizagem está em relação directa com os problemas sociais, económicos e políticos de um país. Defende a avaliação proposta pela Ministra, mas essa avaliação não é um critério, mas um embuste: a avaliação proposta pela Ministra não envolve afectivamente os professores na sua "missão" de ensinar e vai degradar, ainda mais, a qualidade do ensino, porque vai servir apenas para pressionar os professores a elevarem a sua fasquia de atribuição de notas a determinados alunos. António Borges refere que nas escolas privadas os professores também são avaliados. E é verdade! Simplesmente não é pela fórmula introduzida pela Ministério da Educação.

E é bom que se faça justiça: os professores nunca se opuseram a uma avaliação, mas querem uma avaliação que tenha em conta as condições em que trabalham, que não seja instrumento de pressão sobre as notas que atribuem aos alunos, que reconheça o seu sentido de justiça e o seu profissionalismo.

Exigia-se a António Borges que, pelo seu currículo referenciado no final do seu texto, tivesse um outro olhar sobre a escola e não caísse nas banalidades do cidadão comum. É que a escola de hoje, a que faz excelência em outros países, nada tem a ver com a nossa escola. Mas para atingir essa fasquia são precisas profundas reformas no sistema educativo e isso é que não preocupa a Ministra da Educação. Por isso, Lurdes Rodrigues passa ao lado dos fundamentais problemas da Escola, entretém o povoléu com o secundário e não fará história no Ministério da Educação.


E, se repararmos no Estatuto da Carreira Docente, proposto pela Ministra, sobretudo no seu art. 47º, pontos 6 e 7, penalizando as mulheres professoras na progressão da sua carreira pelas faltas na maternidade, doença própria ou dos filhos, compreende-se que a política educativa de Lurdes Rodrigues não tem alternativa para a direita: é que esta já governa por delegação. Percebe-se, então, os encómios de António Borges.

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