quinta-feira, junho 15, 2006

 

A cidade de Caminha e a sua festa do "Corpo de Deus"

Já se tornou um hábito no dia feriado do “Corpo de Deus” ir a Caminha para assistir ás festas religiosas, contemplar o belíssimo tapete de flores naturais que cobre as ruas por onde passa a procissão e conviver com amigos, recordando velhos tempos e esquecidas estórias numa das esplanadas daquela praça quinhentista do centro da Cidade. Entre muitas estórias, que obviamente não poderei aqui relatar, o prof. Abel lembrou o caso de um aluno de Belas Artes a quem foi pedido para ir ao quadro fazer uma recta e ele, pegando no giz, começou no quadro a recta, continuou-a pelas paredes da aula, passou a porta da escola e foi riscando até desaparecer na rua do Heroísmo. Esse aluno revelou-se, no entanto, num génio na pintura. Não se vai dizer o seu nome, mas toda a gente o conhece.

Visitar Caminha é reviver a nossa história. A sua Igreja Matriz é Renascentista e tem características que fazem lembrar a Sé de Braga. Tem três naves e uma única torre (belo exemplar da arte românica tardia, semelhante a muitas que se vêem pela Estremadura espanhola e Castela-à-Velha), obra do mestre biscainho e castelhano Tomé de Tolosa (1488), continuada por Pero Galego. O centro histórico da vila, com o chamado "Chafariz do Terreiro", construído no ano de 1517, os Paços do Concelho, a Torre do Relógio, monumento medieval da antiga cerca defensiva da vila (as antigas Portas de Viana) são monumentos impares. Mas, o que mais nos espanta é a procissão e o tapete de flores. A festa religiosa tem uma tradição: significa a glorificação do “Corpo de Deus” tal como foi instaurado pelo Papa João XXII em 1311. Durante os dias e noites que antecedem as festas, os caminhenses dedicam o seu tempo a construir um dos mais belos panoramas que pode ser visto em Caminha. Todas as ruas por onde passa a procissão, numa distância com cerca de três quilómetros, são cobertas de magníficos tapetes de pétalas de flores, autênticas obras de arte. Vale a pena ser visto! De quando em quando, há desenhos feitos com sal. Isto liga-se a uma outra tradição. O sal é colocado para afastar maus-olhados. É a ligação do sagrado ao profano. Diz-se que no ano de 1539 os pescadores da Ínsua ficaram perplexos quando, ao lançarem as redes, em vez do saboroso marisco e pescado, lhes apareceu um enorme caixão, que a custo trouxeram para a praia. E, quando a medo partiram as tábuas descobriram que lá dentro estava uma escultura de Jesus Cristo, que sobressaía entre cálices de prata e paramentos de seda e damasco. Conta a lenda que esta imagem terá vindo dos lados de Inglaterra, lançada ao mar pelos luteranos do norte, obcecados no seu puritanismo. Institui-se, então, o culto do Senhor Jesus dos Mareantes com capela própria. E a imagem do Ecce-Homo ainda hoje é venerada pela importante Confraria dos Mareantes, com festa rija no mês de Agosto.

Comments:
Compadre, Adorei o seu texto e ...a sua liberdade!
 
Só hoje reparei na sua saudação. Obrigado por ter vindo a este espaço. Um abraço
 
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