quinta-feira, fevereiro 09, 2006

 

Há mais mundo para além da nossa aldeia

Estou a ler um livro que me tem apaixonado. "O Mal no pensamento moderno" de Susan Neiman. Duas questões do livro fizeram-me parar para reflectir: uma, foi quando Susan Neiman exemplificou, com factos da história, que sempre que os valores eram tidos como absolutos, a tortura, a morte públicas eram largamente aceites; outra, foi quando referiu que Afonso X, rei de Castela, o primeiro rei a ordenar que os actos públicos fossem em espanhol e a promover traduções nessa língua, não conseguiu potencializar culturalmente essas iniciativas, porque os intelectuais do reino (digamos assim) não gostavam dele e menosprezavam tudo o que ele decidisse.

No nosso tempo, a ética aplicada já tem em conta os contextos e chama a atenção para a responsabilidade das consequências das nossas convicções, mas ainda se pensa que os valores são independentes da sua aplicação. E, no campo da lógica, sabemos desde Aristóteles que uma coisa são os argumentos e outra coisa o gostarmos ou não de quem os utiliza. Aristóteles foi o primeiro a considerar intelectualmente perverso atacar a pessoa e não os seus argumentos.

Muito tempo nos separa de Aristóteles e de Afonso X, mas a matriz do nosso pensamento ainda não conseguiu libertar-se das envolvências emocionais. Falta-nos ousar criticamente pensar com a razão, como diria Kant e globalizarmos esse pensar. Não temos capacidade para nos pormos em questão e achamos que a nossa paróquia deve ser o centro do mundo, mas há mais mundo para além da nossa aldeia.

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