terça-feira, fevereiro 07, 2006

 

Caricaturas imprudentes

Para defender a publicação das caricaturas de Maomé, tem-se erguido a bandeira da liberdade de imprensa. Todos concordamos com essa bandeira, mas é preciso lembrar que a liberdade de imprensa não é o “vale-tudo”. Há valores que constrangem essa liberdade e que também fazem parte dos direitos humanos e da nossa cultura: por exemplo, os constrangimentos de ordem deontológica, o segredo de justiça e os deveres de confidencialidade. Todos estes valores são também importantes, na medida em que servem o direito à justiça, o respeito pela dignidade humana, a promoção do valor da confiança nas relações entre pessoas e povos e, ainda, garantem o direito á diferença e os chamados direitos pessoais (privacidade, intimidade, etc.)

Não percebo a tese dos que defendem o valor absoluto da liberdade de imprensa e calam, por exemplo, autarcas, dirigentes de futebol e políticos que fazem blak-out, se recusam a falar com determinada imprensa, que perseguem jornalistas porque não dizem o que eles querem que eles digam, que só aceitam entrevistas por escrito ou, ainda, utilizam os jornais para promoção pessoal.

O que está em causa com as caricaturas não é a liberdade de imprensa, mas o preconceito etnocêntrico de considerar que a cultura ocidental é superior à oriental e o sofisma primário de generalizar o terrorismo a todos os maometanos.

O valor da tolerância apoia-se no direito à diferença e perante eventuais conflitos de culturas, exige uma ética prudencial que avalie as consequências previsíveis dos nossos actos, relativamente às crenças mais genuínas de outras culturas. Só assim, o diálogo ente civilizações ou culturas é possível.

Por tudo isto, discordo, em absoluto, da publicação de caricaturas que, no meu entender, ofendem grosseiramente a sensibilidade religiosa dos povos muçulmanos e considero lamentável que, desnecessariamente, (mas previsivelmente) se tenha contribuído para o despoletar de uma espécie de guerra santa (servindo os interesses da al-Qaeda) do mundo árabe contra o mundo “dito” cristão.

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