sexta-feira, janeiro 06, 2006

 

Uma homenagem a ANTÓNIO GANCHO

CLEÓPATRA QUE SAUDADES!


Um dia possuí Cleópatra na cama
a mulher que neste momento se ri de mim
julga que é mentira.
Um dia possuí Cleópatra na cama
coisas com que Cleópatra delira
Dois corpos afinal num só
Negámos nessa noite (tempestade ...)
a lei física da impenetrabilidade dos corpos.
O meu corpo no dela arde que arde
até ficarmos como mortos
Mas Cleópatra era bela.
Ela era mais que uma mulher
ela era de certeza a noite ela era de
certeza a estrela
ela era de certeza um segredo qualquer
Nunca mais me esquece
Agora canto “Um dia possuí Cleópatra
na cama”
a mulher que neste momento se ri de mim
julga que é mentira
Ai que coisa tão boa, coisa tão boazona
ai que coisa com que Cleópatra ai tanto
delira
Agora canto “Na cama” Agora canto”Na cama”
Cleópatra que Saudades!

António Ganchoo. In: Poemas Digitais.

Foi Herberto Hélder que trouxe a público a poesia de António Gancho com a antologiou "Edoi Lelia Doura". Helder, um dos maiores poetas da contemporaneidade, vive com um reduzido subsídio do ministério da cultura num lar para artistas idosos. Também Luís Pacheco, a quem devemos a revelação atempada dos nossos poetas surrealistas, está pobre, quase cego e por caridade vive há anos num lar de terceira idade. No entanto, todos os livros que publicou são livros raros e valem fortunas.

O Gancho faleceu na noite da passagem de ano, na Casa de Saúde do Telhal, onde vivia desde 1967 . Não sei quem disse: «louco é aquele que perdeu tudo menos a razão». De facto, Gancho tinha poucas razões para continuar neste mundo de lojas de trezentos e de retóricas de plástico.

Comments: Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?