quinta-feira, dezembro 22, 2005

 

Loa

Meu Menino Jesus dos triguinhos no prato,

Não enxugues a tua lágrima de vidro,

Não apagues a tua estrela de prata suspensa no quarto ainda morno,


Não deixes envelhecer os velhos tios de retábulo

Ajoelhados em torno: .

Deixa estar as palhinhas urinadas no estábulo,

Que a chuva cheira bem e o pão tufa no forno.

Doira, Menino Jesus, aquele milho amarelo

Que o Joaquim Pacheco secou na escuridão do seu muro,

E manda um navio de nevoeiro

Ao poeta que embarcou à noite no Funchal

Deixando o lenço de sua Mãe molhado no último adeus. .Anda, Menino Jesus, e não me queiras mal,

Se eu te disser que assim é que te sinto Deus.

Manda o navio de nevoeiro

Pela primeira vaga que vires redonda e rebentada:

Tua mão outra vez a atira contra a noite,

Como se não tivesse batido nessa grande praia parada.

E deixa as minhas faltas à missa,

Esquece os pontos fracos da minha velha teologia,

E o orgulho, a razão, o materialismo passageiro...

Mandes tu pelo mar o navio de nevoeiro!.




VITORINO NEMÉSIO

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