sexta-feira, agosto 10, 2018
Dia do Concelho do Marco de Canaveses-Dia de Nossa Senhora do Castelinho
Poucos concelhos terão na sua origem
uma história tão próxima da natureza humana, tão configuradora da ideia de
segurança, de transcendência e bem-estar, como o Marco de Canaveses.
No dia 3 de janeiro de 1852 faleceu o sargento-mor
das milícias do julgado de Bem-Viver, José Joaquim de Abreu e Lemos, fidalgo do
solar de Carrapatelo. Era dia de feira no lugar do “Marco”, assim chamado pela pedra (marco) que aí
limitava dois coutos que vieram a dar origem às freguesias de Fornos, S.
Nicolau e Tuias. Por se situar numa planura e no limite das comarcas de
Canaveses, Tuias e Soalhães era nesse espaço que se realizavam famosas feiras
nos dias 3 e 15 de cada mês. Também foi nesse local que se levantou a Casa
Municipal do Concelho de Soalhães e mais tarde, depois da fundação do Concelho
do Marco o edifício da sua Câmara Municipal.
Pelo
Decreto de 31 de Março de 1852, D. Maria II satisfaz a vontade de Adriano José
de Carvalho e Mello e cria o Concelho do Marco de Canaveses.
Nas contendas políticas da altura ganhou a fação contrária a esta ideia. O busto de Adriano José de Carvalho e Mello foi, em festa, colocado no Jardim Municipal e a inauguração da obra do Dr. Cabral de Matos foi sendo adiada, acabando por ficar esquecida até ao nosso tempo, talvez para não lembrar o seu obreiro. Mas o Jardim, mesmo sem ser inaugurado, foi incorporando diferentes inaugurações, afirmando-se como uma das melhores referências do Concelho.
A morte do Fidalgo de
Carrapatelo foi notícia na Feira que se realizava nesse dia. Um tal Vinagre,
que fazia comércio de azeite e de outros géneros, estava com alguns problemas
financeiros e sonhou logo com o “golpe”. Levou a nova ao José e ao António,
morgadinhos de Canaveses (filhos de um fidalgo falido) que já haviam colaborado
com o Zé do Telhado. Os três avaliaram as vantagens do assalto à casa do
Fidalgo e os morgadinhos levaram a sugestão ao Zé do Telhado. Ficou combinado
contratar gente de confiança que, no dia 7, se encontraria, à meia-noite, numa
corte situada junto à capela de S. Braz, em Fandinhães, Paços de Gaiolo, para
planear o assalto que se realizaria no dia seguinte. (foto da capela)
Acertadas as
incumbências de cada um, no dia 8, ao princípio da noite, a quadrilha, que
comportava cerca de 30 homens, capitaneada por Zé do Telhado, partiu para o
roubo. Por volta das nove horas forçaram a porta da cozinha e penetraram no
Solar. O Zé do Telhado obrigou D. Ana Vitória, filha do Fidalgo, a entregar-lhe
todos os valores que seu pai lhe tinha deixado. Entretanto outros elementos da
quadrilha iam roubando as peças
de ouro e prata que as senhoras que, nessa
altura, estavam no Solar traziam. O pior, foi terem morto a tiro o criado João
Carvalho que se opôs à entrada da quadrilha. Tudo isto criou uma tremenda
insegurança e manchou a dignidade do povo desta terra. O Sr. Adriano da
Picota, como era conhecido o deputado e administrador do Concelho de
Soalhães, jurou que prenderia Zé do Telhado, estivesse onde estivesse. Solicitou
ao Governador Civil do Porto, Visconde de Podentes, um alvará que lhe
permitisse entrar nos concelhos vizinhos para prender o salteador e a sua
gente, o que lhe foi concedido. Simultaneamente envolveu os seus primos António
Nogueira Soares, Afonso Joaquim Nogueira Soares e Rodrigo Nogueira Soares,
notáveis personalidades do movimento da Regeneração, na necessidade de criar um
concelho que agregasse as comarcas vizinhas por forma a desenvencilhar as
autoridades dos empecilhos burocráticos, que não permitiam à justiça de uma
comarca entrar noutra, sem autorização do seu administrador.

No
artº 1º estabelecia: “São reunidos num só concelho, os concelhos de Soalhães e
de Benviver”. E no artº 2º dizia-se: “O novo concelho passa a ser
denominado Marco de Canaveses” e os seus habitantes marcoenses.
Adriano
José de Carvalho e Mello era um devoto de Nossa Senhora da Natividade (protetora
da maternidade e do aleitamento). A
Divindade terá aparecido num penedo do
lugar conhecido por Castelinho onde se construiu, em tempos muito antigos, uma
Ermida. Diz-se que no penedo ainda há marcas dos pés da Virgem, onde “não pega
o musgo, nem a muinha”.
Um
dos sonhos de Adriano José de Carvalho e Mello era transformar a Ermida num
Santuário semelhante ao Bom Jesus de Braga (símbolo do sucesso da Restauração:
libertação de Portugal do jugo espanhol), onde trabalhou, como como santeiro, um marcoense ilustre, Monteiro da Rocha, irmão de uma das personalidades mais famosas no sé. XVIII, o Padre José Monteiro da Rocha, astrónomo. lente na Universidade de Coimbra, natural de Canaveses.
Já como administrador do Concelho fundou, com esse sentido, a irmandade do Castelinho e procurou que a devoção à Nossa
Senhora do Castelinho se tornasse num símbolo da proteção divina, da
regeneração e do patriotismo. A cumprir essa intenção, ainda hoje os
combatentes têm um encontro anual no Castelinho.
Faleceu,
sem ver satisfeita a sua vontade de consagrar o Concelho do Marco de Canaveses
a nossa Senhora do Castelinho.
As
figuras do núcleo da União Nacional pretenderam tornar feriado municipal o dia
28 de Maio. Mas a política do governo tinha, como princípio, fazer dessa data um feriado que representasse
o espírito de corpo da nação e, por isso, tornou ilegal qualquer marcação de
feriados concelhios nessa data.
No
dia 22 de Setembro de 1949, o recém-nomeado presidente do Concelho, Dr. Cabral
de Matos, dentro do espírito do Fundador do Concelho, faz aprovar em reunião da
Câmara, a consagração do Marco de Canaveses a Nossa Senhora do Castelinho e é
fixado o dia 8 de Setembro (dia da celebração religiosa), feriado municipal.
No
dia 12 de Setembro de 1957, o ex-libris do Marco, o seu Jardim Municipal,
recebeu, com pompa e circunstância, o busto do Fundador do Concelho, custeado
por uma subscrição pública. Não era para ser aí colocado, mas em frente ao
edifício da Câmara, como seria, por direito, o seu local próprio. Assim
pensavam os marcoenses que defendiam que o Jardim Municipal, sendo pensado à
imagem das “Cidades-jardim” (uma ideia romântica defensora do bem-estar e
qualidade de vida) pelo presidente Dr. Cabral de Matos, notário no Concelho e
natural de Mangualde, deveria honrar a sua memória, recebendo o seu nome. Nas contendas políticas da altura ganhou a fação contrária a esta ideia. O busto de Adriano José de Carvalho e Mello foi, em festa, colocado no Jardim Municipal e a inauguração da obra do Dr. Cabral de Matos foi sendo adiada, acabando por ficar esquecida até ao nosso tempo, talvez para não lembrar o seu obreiro. Mas o Jardim, mesmo sem ser inaugurado, foi incorporando diferentes inaugurações, afirmando-se como uma das melhores referências do Concelho.