segunda-feira, março 12, 2007

 

Dois reinantes anos socráticos

José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa (o Sócrates reinante) completa, hoje, dois anos à frente do governo.

O que ficará para a história destes dois anos?!... Ou seja, quais as consequências destes dois anos de gestão socrática para o futuro dos nossos filhos, dos nossos netos?!...

Há dois pontos de vista socráticos diferentes. O do reinante Sócrates será de optimismo exaltante; o do Sócrates que foi sábio e nunca reinou está cheio de dúvidas, de incertezas e até de perplexidades: perplexidade sobre o que é o socialismo; dúvida e incerteza sobre a justeza da noção de bom governo aplicada a uma gestão que aumenta o desemprego, o custo de vida, promove o congelamento da progressão nas carreiras da administração pública e a subida da idade da reforma, retira direitos do estatuto da carreira docente e encerra escolas, maternidades e serviços de urgência, deixa a avaliação dos funcionários públicos ao critério dos chefes e nomeia 2373 boys, humilha e desautoriza professores com as consequências conhecidas no aumento da indisciplina e da violência nas escolas, etc., etc.

Um bom governo é o que diminui o sofrimento dos que mais sofrem, mas todas as medidas do dito governo socialista parecem ajustar-se melhor com um darwinismo social, onde os mais fortes são cada vez mais fortes e em menor número e os mais frágeis ficam cada vez mais frágeis e em maior número.

E a confirmar tudo isto, está o facto de mais de 100 mil pessoas protestaram em Lisboa contra as medidas do Governo, na maior manifestação dos últimos 20 anos.

Para os adeptos do Sócrates reinante nada disto é importante, porque nas sondagens o “dito” até sobe. Mas para o sábio Sócrates ficariam duas interrogações: será que o estado de espírito dos sondados vai configurar o futuro dos nossos filhos, dos nossos netos?!...O vazio de alternativas para o desencanto, revelado nas sondagens, não nos deixará mais indefesos em relação a possíveis demagogos do resgate do desespero?!...

Comments:
Tem toda a razão. Sabe, melhor do que eu, que muitas vezes pensamos numa ideia a transmitir e pomos de lado tudo o resto. A ideia que pretendi colocar à reflexão vem no final.
 
Fez-me lembrar o que escreveu La Boétie no "Discurso sobre a servidão voluntária". Este pensador do séc. XVI diz, na pág. 19 do “Discurso…”: «que vício, que triste vício será este: um número infinito de pessoas não só a obedecer mas a servir, não governadas, mas tiranizadas, sem bens, sem pais, sem filhos, sem vida a que possam chamar sua? Suportar a pilhagem, as luxúrias, as crueldades, não de um exército, não de ma horda de bárbaros, contra os quais dariam o sangue e a vida, mas de um só? Não de um Hércules ou de um Sansão, mas de um só indivíduo, que muitas vezes é o mais covarde e tíbio de toda a nação, tão pouco dotado para comandar homens como para satisfazer a mais frágil mulher».

Vale a pena ler o livro, editado pela Antígona. La Boétie foi o fundador da antropologia moderna e definiu a natureza humana de tal forma que influenciou pensadores tão diferentes como Maquiavel, Nietzsche e Marx.
 
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